Grécia muito perto de acordo com credores

Negociações para um terceiro empréstimo decorrem em clima de optimismo mas há ainda muitas incógnitas

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Euclides Tsakalotos, o ministro das Finanças grego, tem de fechar as novas negociações Alkis Konstantinidis/REUTERS

As negociações para um terceiro empréstimo à Grécia decorriam com as habituais maratonas de negociações, mas num renovado clima de entendimento. O optimismo de que será possível um acordo que permitisse a chegada de verbas a Atenas antes do dia 20, quando vence o prazo de pagamento ao Banco Central Europeu, era partilhado por responsáveis gregos e europeus. Fontes de Atenas falavam mesmo de um acordo possível até esta terça-feira.

Desde a meia-noite de domingo, os dois lados começaram “um esforço final, discutindo última parte – analisando o texto final, frase por frase, palavra por palavra”, descreveu um responsável do Ministério das Finanças grego, citado pela agência Reuters. A reunião terminou às 3h30, e as conversações continuaram durante todo o dia de segunda-feira. Serão 27 páginas de reformas “substanciais”, segundo media gregos e alemães.

Há ainda muitas dúvidas sobre questões-chave – desde a quantia do empréstimo, que poderá chegar até 86 mil milhões de euros, até que acções prévias serão exigidas à Grécia em troca do empréstimo.

Da Alemanha, um porta-voz disse preferir um acordo melhor e menos rápido, com algumas vozes a defender que o dinheiro fosse entregue em tranches menores para assegurar o cumprimento do Executivo de Alexis Tsipras.

Este já pediu uma sessão extraordinária do Parlamento que vai interromper as férias de verão para votar dois diplomas: o novo memorando e as acções prévias exigidas. Esta votação deverá ocorrer na próxima quinta-feira, 18 de Agosto, depois de terem sido analisadas pelo Eurogrupo numa reunião que se espera para sexta-feira.

“Até diplomatas europeus anteriormente cépticos dizem agora que poderá ser atingido um acordo antes do prazo de 20 de Agosto”, diz o diário Financial Times, enquanto outras fontes anónimas elogiavam a “cooperação espantosa” do lado grego. “É possível chegar a acordo. É ambicioso, mas possível”, disseram responsáveis de Bruxelas.

O primeiro-ministro grego anunciou entretanto que – independentemente das medidas exigidas pelos credores – quer aproveitar para acabar com os benefícios fiscais dos deputados e dos ministros. “Quando se fala de acabar com benefícios fiscais dos agricultores, não podemos fazer-nos indiferentes sobre as nossas próprias vantagens”, declarou, à saída de uma reunião com ministros-adjuntos da Reforma Administrativa e das Finanças. “É uma iniciativa política que não tem apenas como objectivo conseguir poupança, tem também um significado simbólico.”

Alguns esforços anteriores de Tsipras neste sentido não tiveram o efeito desejado – o pedido para que os deputados abdicassem do carro que lhes é concedido pela lei não foi seguido pela maioria dos deputados - incluindo a maioria dos do seu próprio partido, o Syriza.

As novas medidas a acordar incluem, para além do provável fim de alguns benefícios fiscais aos agricultores, regras mais estritas para quem deve dinheiro ao Estado, um adiantamento de impostos pagos por empresas ou trabalhadores por conta própria com base em cálculos de rendimento (tendo como base o do ano anterior), e um ainda indeterminado programa de privatizações no valor de 50 mil milhões de euros.

Para a Grécia, uma das principais questões é a da saúde financeira dos bancos, que precisam de capital urgente, e o crédito malparado. Este representa 35% do total de empréstimos, por isso Atenas quer um “banco mau” que fique com eles, enquanto os credores querem que estes empréstimos sejam juntos e vendidos a fundos que investem em activos tóxicos.

Mas a votação no Parlamento abre o risco de cisão no Syriza. A aprovação não está em causa, já que os partidos da oposição garantem que conseguem uma maioria, mas o Governo não pode continuar a aprovar medidas com base no apoio da oposição. O cenário mais mencionado são eleições antecipadas no Outono.

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