Governo chinês dá início a grande operação anti-corrupção em Shangai

"É uma purga no partido destinada a afastar os elementos que estão a enfraquecer a legitimidade do partido e a imagem de estabilidade."

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Xi Jinping quer limpar o partido e afastar a oposição Reuters

É a mais vasta operação anti-corrupção da China e vai acontecer na cidade de Xangai, a capital financeira do país. Os analistas dizem que tem dois objectivos: limpar a imagem do Partido Comunista e reforçar o poder do Presidente Xi Jinping, que aproveita para também afastar opositores.

Há 20 meses no poder, Xi deu início a uma grande campanha anti-corrupção que já levou à demissão ou à prisão de centenas de funcionários, dos mais baixos aos mais altos cargos. Porém, nota o jornal The Wall Street Journal, Xangai tinha sido, até agora, poupada à operação. Porém, um grupo do departamento de investigação do comité de disciplina do partido, avança o WSJ citando fontes de Pequim, chegou já à cidade e ali permanecerá até ao fim de Setembro.

Esta informação chega aos jornais dias depois de ter sido anunciado oficialmente que Zhou Yongkang, um antigo homem forte do regime, e figura muito influente na política chinesa apesar de retirada do activo, está sob investigação. Zhou era considerado um intocável — um antigo membro do Comité Permanente, o órgão mais poderoso do partido que governa a China — e a sua queda significa que Xi está disposto a chegar a todos na sua luta que tem três vectores, segundo os analistas. O Presidente quer limpar o partido de forma a garantir que mantém, junto dos chineses, a legitimidade para governar; quer assumir-se como um dos maiores líderes chineses; quer afastar os obstáculos ao seu ambicioso e gigantesco programa de reformas e os que, não sendo contra, podem tornar-se adversários políticos.

Neste contexto, a capital económica da China é um alvo importante — é a base da chamado "facção de Xangai", liderada pelo antigo Presidente Jiang Zemin, que aos 87 anos e tendo saído do poder em 2003 é uma figura influente na política de Pequim.

Avançava o jornal de Hong Kong South China Morning Post que, para investigar Zhou, Xi precisou da aprovação do Comité Permanente. Um dado revelador, uma vez que quatro dos sete membros deste comité poderoso são (ou eram) homens de Jiang; a tendência do grupo terá mudado, sendo agora um Comité Permanente de Xi Jinping.

"[A guerra à corrupção] é uma purga no partido destinada a afastar as pessoas e os grupos de pressão que são vistos como elementos que estão a enfraquecer a legitimidade do partido e a imagem de estabilidade", disse ao South China Morning Post  Kerry Brown, professor de política chinesa na Universidade de Sydney, na Austrália. "Xi Jinping considerou a corrupção uma séria ameaça ao país, mas também viu a campanha como uma forma de aumentar a sua boa reputação", completou Dali Yang, da Universidade de Chicago.

Num texto intitulado "Xi Jinping procura o seu lugar na História", o SCMP explica que Xi quer ser comparável a Deng Xiaoping, o homem que deu início às reformas económicas e que o actual Presidente "admira profundamente". Um amigo de longa data de Xi diz que, nesta sua missão, o actual Presidente "escolheu o caminho mais difícil", indo atrás dos mais poderosos da China, na política, na economia e no aparelho militar — uma das 36 figuras de topo afastadas foi Xu Caihou, alta patente militar com ligações fortes a Zhou Yongkang.

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