Gorbatchov denuncia “ataque aos direitos dos cidadãos” na Rússia

Último líder da ex-União Soviética aconselha Putin a “não ter medo do seu próprio povo”.

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Gorbachov aconselha Putin a fazer ajustamentos no regime Grigory Dukor/Reuters

O antigo líder soviético Mikhail Gorbatchov considera que uma série de leis recentemente aprovadas na Rússia são um “ataque aos direitos dos cidadãos” e apelou ao Presidente Vladimir Putin para “não ter medo do seu próprio povo”.

Numa entrevista à BBC, Gorbatchov disse também que o círculo próximo de Putin está cheio de “ladrões e corruptos”.

As leis contestadas pelo último líder da União Soviética prevêem multas para organizadores de protestos não autorizados, agravamento de penas para condenações por difamação, alargam o conceito de traição e impõem restrições a sites.

Gorbatchov, 82 anos, diz que está “espantado” com as leis que têm sido aprovadas na Rússia após o regresso de Putin ao poder. O actual Presidente voltou à chefia do Estado em Maio de 2012, para um terceiro mandato.

“O traço comum de todas elas é um ataque aos direitos dos cidadãos”, disse à BBC. “Pelo amor de Deus, não deve ter medo do seu próprio povo.”

“O que as pessoas querem e esperam do seu Presidente é um diálogo directo e aberto com elas. Ele não se pode ofender com isso”, afirmou.

Gorbatchov diz que Putin “às vezes perde a paciência” – “uma vez disse que a língua de Gorbatchov devia ser cortada”.

“Tenho a sensação de que está muito tenso e entediado. Nem tudo corre bem. Acho que devia mudar de estilo e fazer ajustamentos no regime”, acrescentou.

O círculo próximo do Presidente é também motivo de preocupação para Gorbatchov. “Nos que estão ao seu lado há muitos ladrões e corruptos”, disse. “Se as coisas não mudarem, a Rússia continuará à deriva como um pedaço de gelo no Árctico."

O correspondente da BBC em Moscovo, Steve Rosenberg, autor da entrevista, nota que o antigo Presidente soviético se tem tornado mais crítico de Putin, o que não cai bem no Kremlin.

Gorbatchov promoveu, nos anos 1980, a perestroika, política de abertura da fase final da União Soviética. Liderou a União Soviética até à sua desintegração, em 1991.
 

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