Fundador da Apple compara PRISM à "Rússia comunista" e critica ataque à liberdade

Steve Wozniak questiona os efeitos do Patriot Act associados ao PRISM e ao cloud computing.

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Wozniak, numa foto em 2005 David Paul Morris/AFP

Numa altura em que a credibilidade de empresas tecnológicas como o Facebook, Apple ou Google está novamente sob análise depois de ter sido revelado que o programa de vigilância PRISM permite acesso aos dados de utilizadores, o co-fundador da Apple, Steve Wozniak, teceu duras críticas à Agência de Segurança Nacional norte-americana (NSA) e a Washington. Wozniak comparou os efeitos deste tipo de sistema à “Rússia comunista” e criticou a dissolução dos direitos fundamentais dos americanos no Patriot Act.

Interpelado num aeroporto e filmado para o site FayerWayer, dedicado à informação sobre tecnologia, o guru da web explicou que quando crescia foi ensinado que “a Rússia comunista era tão má porque seguiam o seu povo, espiavam-nos, prendiam-nos, punham-nos em prisões secretas, faziam-nos desaparecer. E hoje em dia, estamos a ficar cada vez mais assim”. Wozniak mostrou-se preocupado com os efeitos que o cloud computing, associada ao programa PRISM, está a ter nas liberdades individuais e criticou os decisores políticos que tomaram as decisões que levaram ao actual estado de coisas.

Falando da Constituição dos EUA, Wozniak lamenta que essas garantias hoje sejam “nada”. “Dissolveram-se todas com o Patriot Act [assinado pelo então Presidente George W. Bush em 2001, que diminui as restrições das forças de segurança e serviços secretos na recolha de informação nos EUA]. Há uma série de leis que podem chamar a tudo terrorismo, secretamente, e fazer tudo o que quiserem”, disse aos seus interlocutores. “Não sei como é que isto aconteceu. É tudo extremamente claro na Carta de Direitos. Tudo foi revertido. É o que faz um rei.”

No início de Junho, o Guardian e o Washington Post revelaram que, segundo a sua fonte primordial, o antigo assistente técnico da CIA e da NSA Edward Snowden, foi iniciado na era Bush (2001-2008) o PRISM, nome de código para o sistema de vigilância que dá acesso aos servidores de nove grandes empresas da área da tecnologia – Microsoft, Yahoo, Google, Facebook, PalTalk, AOL, Skype, YouTube e Apple. A finalidade desse acesso é a vigilância em larga escala, para aceder a informação, telefonemas, emails e contactos de milhões de utilizadores nos EUA e resto do mundo, que a NSA armazena e analisa.

Wozniak volta à comparação com a União Soviética para mostrar o seu desagrado perante o caso PRISM e os riscos da sua combinação com a “nuvem” de informação. “Não se podia deter nada [na Rússia comunista]. Bom, hoje em dia no mundo digital já não somos donos de nada. É tudo por subscrição… Tudo o que pusermos na nuvem não é nosso”, argumenta. “Quando éramos jovens, a propriedade era o que distinguia a América da Rússia.” Quanto à forma como a informação destes gigantes tecnológicos é usada pelas agências de segurança norte-americanas e seus funcionários. “Sem tribunais, sem inspecção, sem mandados, sem ninguém ter de aprovar nada. Esse tipo de estrutura é errado.”

Na sequência da revelação da existência do PRISM, algumas dessas empresas tecnológicas pediram mais transparência ao Governo dos EUA na gestão desses pedidos de informação e seu uso. Este fim-de-semana, e na esteira das repercussões na confiança dos utilizadores que teve o caso PRISM, o Facebook revelou ter sido autorizado a comunicar num relatório de transparência algumas informações sobre os pedidos feitos quanto a dados dos seus utilizadores. O responsável pelo departamento legal do Facebook, Ted Ullyot, disse que a empresa pediu às autoridades “mais transparência e flexibilidade em relação às ordens sobre segurança nacional” que são “obrigados a cumprir”.

Steve Wozniak é um pioneiro da informática e computação, sendo o responsável pelos computadores Apple I e II, desenvolvidos nos anos 1970. Ligado à Apple desde a sua fundação, trabalhou a tempo inteiro na empresa até 1987, mas “Woz”, como é também conhecido, manteve-se sempre na sua folha de ordenados e é um dos principais accionistas da empresa apesar de trabalhar nos seus próprios projectos.

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