Erdogan desmente telefonemas que o implicam em escândalo de corrupção

Alegadas conversas do primeiro-ministro turco divulgadas depois do arranque da campanha eleitoral para as municipais do fim de Março.

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Erdogan denunciou uma "montagem vergonhosa" Umit Bektas/Reuters

Acusações, desmentidos e pedidos de demissão. A política turca continua a viver ao ritmo de escândalos. O último episódio envolve directamente o primeiro-ministro: conversas telefónicas que Recep Tayyip Erdogan desmente ter tido com o seu filho, onde se fala de fazer desaparecer centenas de milhares de euros levaram a oposição a pedir, uma vez mais, a demissão do chefe do Governo.

É mais um desenvolvimento no escândalo de corrupção que envolve aliados do primeiro-ministro turco e que o Governo diz ser fruto de uma conspiração movida por Fethullah Gülen, o imã que lidera uma rede global de escolas e instituições de caridade e que quando era aliado de Erdogan colocou seguidores em altos cargos das forças de segurança e do poder judicial.

Nas conversas divulgadas na segunda-feira à noite, a voz identificada como de Erdogan discute com o seu filho Bilal como reduzir os fundos armazenados em várias casas a zero; Bilal sugere distribuir o dinheiro por vários empresários.

Os telefonemas terão acontecido entre 17 e 18 de Dezembro, precisamente quando foi revelado a investigação de corrupção, fraude e branqueamento de capitais que já levou à demissão de vários ministros e à detenção de muitas pessoas ligadas ao AKP (Partido da Justiça e do Desenvolvimento), no poder desde 2002. Nesses dias, a polícia fez buscas em dezenas de casas.

No mesmo dia em que alguém publicou as conversas no Youtube, dois jornais próximos do AKP acusavam magistrados ligados a Gülen de terem colocado sob escuta milhares de pessoas, incluindo o primeiro-ministro.

Aproveitando a reunião semanal com os deputados do AKP, na terça-feira de manhã, o primeiro-ministro denunciou uma “montagem vergonhosa” e um “ataque odioso” destinado a prejudicar o partido. “Nunca cederemos, só o povo pode decidir afastar-nos e mais ninguém”, disse. É nas urnas, então, que Erdogan quer saber se os turcos continuam com ele. Para além das eleições municipais, a 30 de Março, a Turquia vai ter em Agosto as primeiras presidenciais directas e Erdogan nunca escondeu que quer suceder ao Presidente Abdullah Gül.

“O Governo deve demitir-se imediatamente, perdeu toda a legitimidade”, defendeu Haluk Koç, vice-presidente do maior partido da oposição, o CHP (Partido Republicano do Povo). A Turquia, disse, “não pode continuar no seu caminho com esta sujidade, com este fardo”. O líder dos nacionalistas do MHP, Davlet Bahçeli, preferiu anunciar que “o fim absoluto e certo está próximo para Erdogan”.

Já depois da ida ao Parlamento, o primeiro-ministro viu a inauguração de uma nova auto-estrada que atravessa a Universidade Técnica do Médio Oriente, em Ancara, tornar-se numa manifestação contra o Governo. Esta universidade já tinha sido palco de protestos no Verão passado, na vaga de contestação desencadeada pelo plano para demolir um parque no centro de Istambul e violentamente reprimida pelas forças de segurança.

“Ladrão Tayyip Erdogan” e “Governo demissão”, ouviu Erdogan dos estudantes. A polícia acabou por dispersar os manifestantes à força, com canhões de água e granadas de gás lacrimogéneo.

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