Dilma e Aécio, em modo de combate, esqueceram-se de falar no futuro

Sondagem após debate televisivo mostra que os dois candidatos continuam empatados. Presidente diz que antigo governador de Minas é um nepotista. Aécio diz que Dilma deixa o Governo “num mar de lama”.

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Dilma e Aécio cumprimentaram-se cordialmente depois de um debate tenso Nelson Almeida/AFP

O primeiro debate televisivo dos dois candidatos à segunda volta das presidenciais brasileiras foi descrito como um FlaXFlu (a partida entre as duas equipas de futebol rivais do Rio, Flamengo e Fluminense) ou ainda uma disputa de artes marciais mistas, o popular Ultimate Fight Championship. Mas no final, ninguém ficou a ganhar.

A Presidente, Dilma Rousseff (Partido dos Trabalhadores – PT), e o seu adversário, Aécio Neves (Partido da Social-Democracia Brasileira – PSDB), não demoraram muito tempo até partirem para o ataque no primeiro de quatro debates televisivos antes da segunda volta das presidenciais, agendada para dia 26 deste mês. O formato favorecia o confronto: não havia moderação e cada round começava com uma pergunta de um dos candidatos. Estas perguntas foram, muitas vezes, acusações.

A sondagem Datafolha revelada 24 horas depois do debate mostra que os dois candidatos continuam em empate técnico, tal como há uma semana: Aécio tem 51% das intenções de voto e Dilma 49%, o que ainda está dentro da margem de erro.  Os dois jogaram tudo por tudo, apontando “mentiras” e “leviandades” um ao outro.

Aécio mencionou, como não poderia deixar de ser, o escândalo recente da estatal Petrobras, em que se suspeita de desvio de verbas para campanhas do PT e do seu aliado PMDB. Estas denúncias são “absolutamente inacreditáveis”, disse Aécio. Dilma respondeu que a sua indignação é a mesma de todos os brasileiros, mas contra-atacou citando casos ligados ao PSDB durante a presidência de Fernando Henrique Cardoso. “Onde estão todos os envolvidos?”, perguntou Dilma. “Todos soltos. O que eu não quero é isso, candidato. Eu quero todos aqueles culpados presos”, declarou.

Dilma, lembrando a revelação de que, quando foi governador de Minas Gerais (2003-2010), Aécio construiu um aeroporto numa zona vazia de uma fazenda de um tio-avô, acusou o seu rival de nepotismo: “O senhor teve uma irmã, três tios e três primos no seu Governo”, disparou. Aécio reagiu indignado: “Sua propaganda é uma mentira. A senhora mente aos brasileiros para ficar no Governo.” Mais: “Eu terminei meu mandato sem nenhuma denúncia. A senhora deixou o Governo num mar de lama.”

Quanto a política, os dois reivindicaram para os seus partidos os programas de apoio social do Brasil. Nos últimos quatro anos, acusou Aécio, o Brasil parou de melhorar. “A impressão que eu tenho é que a senhora não governou o Brasil nos últimos quatro anos”, disse Aécio. “O senhor só se compromete a manter os meus programas”, ripostou Dilma.

Apontando a falta de investimento em saúde do seu rival enquanto esteve à frente de Minas, Dilma acusou: “Vocês nunca fizeram programas sociais quando puderam, sempre deixaram a desejar.” Acusação a que Aécio respondeu que Dilma “falta com a verdade”: “O maior programa de transferência de rendimento da história contemporânea do Brasil não foi o Bolsa Família [de Lula], foi o Plano Real [de estabilização da economia na altura da inflação com o lançamento da nova moeda em 1994], que vocês combateram com todas as forças.”

Dilma mencionou ainda o facto de que Aécio teve menos votação do que ela em Minas, para repetir a ideia que “quem conhece não vota” no candidato do PSDB.

A fechar o debate, Dilma perguntou quem é capaz de manter as actuais conquistas em áreas sociais, dizendo que se for reeleita a próxima grande prioridade será a educação. Aécio citou os seus novos apoios, incluindo Marina Silva, a candidata ecologista.

Apoiantes de Dilma dizem que ela ganhou o debate, os de Aécio que foi ele o vencedor. Muitos outros queixavam-se da falta de discussão. “Esperava ver um debate de programas, projectos, e acções futuras”, dizia o jornalista da revista Carta Capital Rodrigo Martins no Twitter. “Acabei a ver um UFC [Ultimate Fight Championship].”

“Para os eleitores convertidos, o confronto pode agradar”, comentava no jornal Estado de São Paulo Marcelo de Moraes. “Para os indecisos, pode ter gerado mais dúvidas do que antes.”


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