Croácia escolhe Presidente, mas o que quer é solução para a longa crise

Há seis anos em recessão e sem esperança de recuperação económica, o 28.º país da União Europeia afunda-se no marasmo. “Ninguém devia ir votar”, diz um eleitor.

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O actual Presidente, Ivo Josipovic, deverá ser reeleito AFP

O mais recente membro da União Europeia, a Croácia, um país afundado na recessão económica desde 2008, quase sem nenhum alívio, vai às urnas neste domingo para eleger o seu Presidente. O mais provável é que reeleja na segunda volta o actual, Ivo Josipovic, apoiado pelos social-democratas que estão no Governo. Mas a popularidade do partido de centro-esquerda, herdeiro dos comunistas de antes da queda da Cortina de Ferro, está em perda acelerada, devido à incapacidade do primeiro-ministro Zoran Milanovic em travar o declínio da economia.

Do programa eleitoral de Josipovic consta a necessidade de fazer alterações à Constituição, para que a Croácia possa desenvolver melhor a sua economia. Em causa estão alterações ao sistema judicial, competências do Governo e uma redução do número das regiões. “O que foi um quadro legal excelente para o desenvolvimento da democracia [após a proclamação da independência da Ex-Jugoslávia, em 1991] e para a implantação do Estado tornou-se hoje um travão”, defendeu, citado pela AFP.

A Croácia, um país de 4,2 milhões de habitantes, está em recessão desde 2008 e o seu Produto Interno Bruto (PIB) deve recuar de novo 0,5% em 2014. A taxa de desemprego ronda os 20% e um jovem em cada dois está desempregado. A dívida pública representa quase 80% do PIB. A adesão à União Europeia, em Julho de 2013, não ajudou o país a sair deste marasmo: as perspectivas para 2015 são de crescimento zero.

Jurista e compositor de música clássica, Josipovic, de 57 anos, um experiente político que fez parte do Partido Comunista no antigo regime e ajudou a transformá-lo no actual Partido Social Democrata, apresentou-se em 2010 como o candidato anti-corrupção, num país marcado por este problema. Celebrou a entrada a Croácia na UE interpretando ao piano a” Ode à Alegria” de Beethoven, o hino da União Europeia.

É o político mais popular do país, e as sondagens mais recentes dão-lhe 46,5% dos votos. As projecções dão 34,9%  à sua rival mais importante nestas eleições, Kolinda Grabar Kitarovi, candidata da oposição conservadora, a União Democrática da Croácia (HDZ), o partido de Franjo Tujman, que liderou o país durante a guerra da Ex-Jugoslávia.

Ministra dos Negócios Estrangeiros croata entre 2003 e 2008, Grabar Kitarovi, de 47 anos, critica o Presidente por não ter empurrado o Governo a fazer as reforças económicas necessárias, tocando no ponto fraco que normalmente é apontado a Josipovic: o ser demasiado conciliador, ao ponto de não exprimir sequer uma opinião clara, para ficar de boas relações com toda a gente.

“Lembram-se de alguma coisa que ele tenha feito por este país ou que qualquer opinião importante que ele tenha expresso?”, perguntou, num comício, a candidata que foi embaixadora em Washington e integrou o Governo de Ivo Sanader, ex-primeiro-ministro condenado e preso por corrupção.

De olho nas legislativas
A falta de resultados do governo de Zoran Milanovic é o pano de fundo destas eleições, até porque haverá eleições legislativas no final de 2015. O primeiro-ministro tem fama de ser inteligente, mas não particularmente diligente relativamente à economia, diz a revista The Economist. E os seus dotes para a comunicação deixam muito a desejar: tentou estabelecer um elo com vítimas das inundações catastróficas que afectaram os Balcãs em Maio contando a pessoas que ficaram sem casa que um dia se tinha rompido um cano em sua casa.

Conflitos no interior do Executivo levaram a demissões de ministros que prejudicaram a sua imagem e levaram a cisões na esquerda. Foi o caso da saída do ministro das Finanças Slavko Linic, que acusou o primeiro-ministro de preguiça, nepotismo e de governar o país a partir de restaurantes.

Quanto a Mirela Holy, esta ex-ministra deixou o governo e os sociais-democratas, para fundar um partido ecologista, que ficou em terceiro lugar nas eleições europeias de Maio, com 9,4% - e que apoiará Josipovic, pelo menos na segunda volta, a 11 de Janeiro. Mas a divisão da esquerda favoreceu a oposição conservadora, e poderá vir a levá-la de volta ao poder nas próximas legislativas.

As presidenciais são disputadas por dois outros candidatos, de extremos opostos do espectro político: Milan Kujundzic, de extrema-direita, e o activista de esquerda Ivan Vilibor Sincic, que se notabilizou por lutar contra os despejos forçados de pessoas que não tinham dinheiro para pagar a hipoteca das suas casas.

Perante este cenário, o interesse dos eleitores no 28º país da União Europeia não é grande: “Conversei sobre as eleições com o meu primo, e acho que não vamos votar. Provavelmente ninguém devia ir votar, para que as coisas mudassem. Parece que a HDZ vai voltar ao poder e, infelizmente, vai tudo voltar ao mesmo”, comentou com a Reuters o comerciante Eduard Niksic.

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