Contagem inicial aponta para vitória de Erdogan nas municipais da Turquia

Tudo em aberto em Istambul: com 10% dos votos apurados, a oposição estava ligeiramente à frente.

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Primeiro-ministro, Recep Tayyip Erdogan, agradece a apoiantes depois de votar REUTERS/Murad Sezer

Com apenas 10% dos votos nas eleições municipais da Turquia apurados, a oposição do Partido Republicano do Povo (CHP) estava ligeiramente à frente da contagem em Istambul, a cidade de 15 milhões de habitantes onde o primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan fundou as suas credenciais políticas.

A confirmar-se, a perda de Istambul seria um revés para o primeiro-ministro, no poder há 12 anos. No entanto, a primazia política do seu Partido Justiça e Desenvolvimento (AKP) não estava minimamente em causa: segundo a agência France Press, o movimento de Erdogan já ultrapassava os 48% a nível nacional quando estavam apurados 25% dos boletins. O CHP encontrava-se já a uma larga distância, com 28%, seguido pelo partido Movimento Nacionalista, com 14%, de acordo com os números da estação NTV.

Mas com as maiores secções de voto ainda sem reportar resultados em Istambul, a diferença mínima de meio ponto percentual que separava o concorrente da oposição do candidato do poder indicava que qualquer desfecho era possível. Ao início da noite, vários veículos das forças anti-motim e tanques com canhões de água foram mobilizados para a zona da praça Taksim, o palco dos protestos contra o Governo em Junho de 2013.

Na capital, Ancara, os primeiros indicadores apontavam logo para a manutenção do poder nas mãos do AKP, o partido conservador fundado em 2001 por Erdogan para congregar nacionalistas, reformadores de centro-direita e islamistas, e que venceu todas as eleições turcas desde 2002. Mas à semelhança de Istambul, o resultado estava renhido.

A votação autárquica de ontem – para a qual foram chamados mais de 52 milhões de eleitores – decorreu sem incidentes em quase todo o país, excepto na zona de fronteira com a Síria. Aí, nas províncias de Hatay e Sanliurfa, houve cenas de caos e violência, com pelo menos oito mortes registadas em confrontos atribuídos a rivalidades sectárias entre diferentes clãs, e 13 pessoas receberam tratamento por ferimentos com arma de fogo.

Apesar das longas filas e horas de espera à porta das secções de voto, as várias equipas de monitores internacionais dispersas pelo país não encontraram motivos para pôr em causa a legalidade dos resultados. A taxa de abstenção deveria ser baixa, provavelmente até inferior à das anteriores eleições. Em 2009, a participação ascendeu aos 85%, ligeiramente acima dos 83% das legislativas de 2011.

Para a maior parte dos eleitores, a votação tinha uma importância maior do que a escolha de novos dirigentes municipais: tratava-se de uma oportunidade para legitimar Erdogan e a sua deriva autocrática, ou promover a mudança e definir um novo rumo (político) para o país. “A Turquia precisa de honestidade, precisa de uma nova direcção. A situação em que nos encontramos é muito triste“, observava Ali Ozkala, um eleitor de 85 anos, à reportagem da Al-Jazira.

A votação autárquica de ontem foi o primeiro grande teste eleitoral de Erdogan e do seu partido AKP depois da erupção do movimento de protesto anti-governamental da praça Taksim, no Verão passado, e a publicação de notícias sobre a alegada teia de corrupção que envolve o executivo e os seus aliados políticos e económicos – e mantém o primeiro-ministro e a família sob suspeita.

Acossado, Erdogan manteve uma postura de desafio e combate ao longo da campanha eleitoral. Mas o seu tom cada vez mais duro e radical apenas confirmou a polarização em que caiu a política e, em termos mais gerais, em que vive a sociedade turca: o debate agora faz-se em torno da eventual existência de uma conspiração internacional para derrubar Erdogan.

“São todos traidores”, disse o primeiro-ministro, referindo-se à oposição. “Mas terão o que merecem. A mensagem das urnas será uma lição para eles, uma bofetada otomana”, antecipou. Do resultado da votação dependia, em larga medida, a resposta prometida por Tayyip Recep Erdogan contra Fethullah Gülen, um imã radicado nos Estados Unidos que foi outrora um dos seus aliados. O pensador sufi é agora acusado de estar por detrás da “insubordinação” e dos ataques contra o Governo alimentados pela sua rede Hizmet, que Erdogan descreve como uma “organização terrorista”.

O desfecho eleitoral deste domingo também poderia baralhar as cartas e até mudar o jogo das próximas eleições presidenciais, marcadas para Agosto, e das legislativas de 2015. Com uma votação significativamente abaixo dos 50%, Erdogan poderia desistir da sua (esperada) candidatura à presidência e optar por cumprir um quarto mandato consecutivo à frente do Governo.
 

   

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