Conservadores ficam sem maioria absoluta e extrema-direita entra no Parlamento sueco

Foto
Fredrik Reinfeldt deverá manter-se no cargo de primeiro-ministro Bob Strong/REUTERS

A coligação de centro-direita que governa a Suécia venceu as eleições legislativas de ontem, mas sem maioria absoluta no Parlamento, onde chega pela primeira vez desde o início dos anos 90 um partido de extrema-direita — indicam os resultados quase definitivos conhecidos ontem à noite.

Os resultados disponíveis atribuíam 49,2 por cento e 173 deputados à aliança conservadora, a dois da maioria absoluta, contra 43,6 da coligação de social-democratas e Verdes, que elegeu 156. A maioria absoluta no Parlamento, o Riksdag, exige 175.

Os Democratas da Suécia (DS), de extrema-direita, exultaram com a eleição de 20 deputados, conseguidos com 5,8 por cento, acima da fasquia de quatro por cento que permite eleger parlamentares.Os eleitores só parcialmente deram ouvidos ao primeiro-ministro, Fredrik Reinfeldt, 45 anos. Atribuíram um segundo mandato à sua coligação de quatro partidos que lidera a Suécia desde 2006, reconduzindo pela primeira vez um Governo conservador em quase um século, mas ignoraram o apelo que repetiu até ao último dia para que não votassem nos DS, de Jimmie Aakesson. “Não façam a Suécia viver essa experiência. Façam com que eles não tenham poder”, pedira.

Para os social-democratas, que dominaram a política sueca nos últimos 80 anos — liderança do Governo em 65 dos 78 anos anteriores — e são tidos como os guardiães do modelo social sueco, os resultados representam um sério revés. “Não votem pelo desaparecimento do Estado-Providência. Não voltaremos a ter o que vendermos e suprimirmos”, disse, num apelo final, ainda no sábado à noite, Mona Sahlin, a líder social-democrata, 53 anos, que aspirava a tornar-se a primeira mulher a dirigir o país.

A coligação governamental liderada pelos Moderados de Fredrik Reinfeldt, e de que fazem parte liberais, centristas e democratas-cristãos, capitalizou o invejável crescimento económico de 4,5 por cento, uma boa gestão das finanças públicas que dá ao país o menor défice da União Europeia (um por cento) e descidas de apoios e impostos apresentadas como necessárias para criar empregos que possam “garantir o financiamento do Estado-Providência”. “Os eleitores viram que tivemos um governo de direita e que a Suécia não mudou assim tanto”, disse Jenny Madestam, cientista política da Universidade de Estocolmo, ao Financial Times, nas vésperas das eleições.

A hipótese Verdes

A perspectiva de que a Suécia venha agora a ter um Governo minoritário é um cenário provável, uma vez que os dois blocos excluíram completamente a possibilidade de darem à extrema-direita o papel de “fazedora de reis”. “Com este resultado, vamos ter uma situação incerta”, disse um porta-voz do primeiro-ministro, citado pela BBC.


Knut Hallberg, economista do Swedbank, afirmou ontem à Reuters que é cedo para conclusões e admitiu que Reinfeld possa tentar associar os Verdes à maioria. Mas isso tornaria difícil a aplicação de algumas das suas políticas mais liberais.

A existência de um executivo minoritário pode desagradar aos mercados financeiros e analistas admitiram que tenha efeitos como a desvalorização da coroa sueca face ao euro. Mas nem todos pensam assim.

Torbjorn Isaksson, analista chefe do Nordea, o maior banco sueco, desdramatizou essa possibilidade e disse que os mercados estão tranquilos, tanto mais que antes do governo Reinfeldt, que chegou ao poder em 2006, as maiorias absolutas eram raras no país. “O governo e a oposição vão encontrar formas de trabalharem juntos. A economia está de boa saúde, não há reformas difíceis no horizonte e as diferenças entre os [dois maiores partidos] são relativamente pequenas”. Isso torna menos crucial a existência de um Governo forte”, disse ao Financial Times, ainda antes de os eleitores se pronunciarem.

Notícia actualizada às 23h23
Sugerir correcção
Comentar