Confrontos com canhões antiaéreos entre milícias em Trípoli fazem pelo menos 31 mortos

Manifestação contra a presença de milícias armadas na capital a Líbia começou de forma pacífica mas degenerou em enorme violência

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A manifestão começou de forma pacífica mas transformou-se numa batalha MAHMUD TURKIA/AFP

Pelo menos 31 pessoas morreram e 285 ficaram feridas em Trípoli, quando uma manifestação contra a presença de uma milícia armada de Misrata na capital líbia nesta sexta-feira degenerou para um ataque à vivenda que a milícia tinha transformado no seu quartel-general - um combate que incluiu artilharia antiaérea.

O balanço foi apresentado pelo primeiro-ministro Ali Zeidan à Reuters e ao canal de televisão Ahrar. “Vários dos feridos que deram entrada nos hospitais de Trípoli” estão gravemente feridos”, disse um porta-voz do Ministério da Saúde à AFP antes, que falava apenas em 15 mortos. A contagem de vítimas tem vindo a aumentar com o passar das horas.

Na última semana, este grupo armado de Misrata envolveu-se por duas vezes em disputas com um grupo rival que tinha detido durante algum tempo um dos seus membros por guiar um carro sem matrícula. O Governo, que não consegue acabar com as milícias que participaram na guerra civil que depôs o coronel Kadhafi há dois anos, tenta recrutá-las para desempenharem funções de manutenção da lei e da ordem. Mas os homens armados mantêm maior fidelidade aos seus comandantes do que ao Estado, e lutam pelo controlo de determinadas áreas e seguem com os seus próprios negócios, sejam eles tráfico de armas ou drogas.

Na descrição da Reuters, a luta começou quando cerca de 500 pessoas se aproximaram da vivenda ocupada pela milícia de Misrata, gritando “não queremos milícias armadas!”, e foram recebidos por disparos de um canhão de uma bateria antiaérea. Os manifestantes inicialmente fugiram, mas alguns voltaram, com muitas armas, e invadiram a vivenda.

Já segundo a AFP, quem usou armamento antiaéreo terão sido os que assaltaram o quartel-general da milícia de Misrata, ao cair da noite: levavam canhões antiaéreos numa carrinha de caixa aberta e depois deitaram fogo à casa. “É a confusão total, continuam a afluir feridos aos hospitais”, disse o porta-voz do Ministério da Saúde líbio.

O exército líbio tentou também intervir para separar as partes em conflito, ajudando ao caos. Os soldados cortaram estradas para impedir que se juntassem mais combatentes a esta cena de guerra urbana, e havia aviões da Força Aérea a sobrevoar a capital líbia, relata ainda a Reuters.

O primeiro-ministro líbio, Ali Zeidan, que ainda há poucos dias foi raptado durante algumas horas por uma destas milícias a quem o Governo paga, declarou que “todas as milícias têm de deixar Trípoli, sem excepção”, cita-o a Reuters. “A existência de armas sem ser nas mãos do exército e da polícia é perigosa”, concluiu. Se terá capacidade de pôr em prática esta declaração é outra coisa.

Mas os habitantes de Trípoli estão muito fartos da situação. “Vamos anunciar uma greve geral e entrar na desobediência civil até que as milícias se vão embora”, afirmou Sadat al-Badri, presidente do Conselho, o equivalente a presidente da Câmara da capital. Nas preces de sexta-feira, os imãs das mesquitas tinham apelado à realização da manifestação, em termos pacíficos, relata a AFP.
 

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