Conflito na Ucrânia já fez mais de um milhão de refugiados

António Guterres lamenta que as "lições dos Balcãs" não tenham sido aprendidas.

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Fila num campo de refugiados na Rússia, perto da fronteira com a Ucrânia Dmitry Serebryakov / AFP

Quando Elmira Maltseva fugiu de sua casa, na cidade de Stakhanov, na região de Lugansk, teve de cobrir as janelas com fitas brancas. “Costumava fazer-se isso durante a Segunda Guerra Mundial, para que as janelas não se estilhaçassem com os tiros”, explicou. Elmira, o marido e os dois filhos moram agora numa cidade de tendas perto de Mazanka na Crimeia, que serve de casa a 800 refugiados que fugiram à guerra no Leste da Ucrânia.

Cerca de um milhão de pessoas terão fugido das suas casas no Leste da Ucrânia nos últimos cinco meses, revelou esta terça-feira a Agência das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR). “É seguro dizer que mais de um milhão de pessoas estão deslocadas em resultado do conflito, tanto a nível interno como externamente”, afirmou à Reuters o director do gabinete da ACNUR para a Europa, Vincent Cochetel. “Quer dizer, são 260 mil na Ucrânia, uma estimativa baixa, os 814 mil na Rússia e depois é somar o resto…”, acrescentou Cochetel.

A agência estima que 260 mil pessoas se tenham vistas obrigadas a procurar refúgio noutras zonas da Ucrânia – um valor que a própria ACNUR diz ser conservador, uma vez que muitos terão ido para casas de familiares e amigos e não comunicaram às autoridades.

As autoridades russas dizem que cerca de 814 mil ucranianos entraram na Federação Russa desde o início do ano, um valor de difícil verificação, dado que existe um regime de acesso livre entre os dois países.

O alto-comissário, António Guterres, sublinhou “as consequências humanitárias devastadoras” e o “potencial para desestabilizar a região” que a continuação do conflito pode acarretar. “Depois das lições dos Balcãs, custa a acreditar que um conflito destas proporções se pudesse desenrolar no continente europeu”, disse ainda Guterres.

Em Mazanka, a quinze quilómetros de Simferopol (capital da Crimeia), vivem 800 destas pessoas que fogem aos bombardeamentos que atingem as zonas residenciais de grandes cidades como Donetsk e Lugansk, mas todos os dias chega mais gente, como constataram os enviados do jornal britânico The Telegraph. Lá, as mulheres têm lugar no dormitório, em que cada quarto consegue albergar 20 pessoas, e os homens acomodam-se em tendas no exterior.

Para os refugiados ucranianos o objectivo é voltar às suas casas, mas esse dia parece ainda longe, à medida que o conflito se torna mais violento. “Já não há pessoas lá, só bombardeamentos”, diz Ekaterina Gorelkina, que veio de Lisichansk. “A comida que pode ser comprada tornou-se muito mais cara, as condições são melhores aqui do que em casa”, afirma. Resta-lhes apenas esperar que a fita branca preserve as janelas das casas que deixaram. 

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