Só uma calamidade impedirá Donald Trump de ganhar no New Hampshire

Apesar das previsíveis vitórias nas eleições primárias desta terça-feira, tanto no campo democrata como republicano, as corridas para a Casa Branca permanecem abertas.

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Donald Trump manteve a sua vantagem constante em 70 sondagens consecutivas no New Hampshire Carlo Allegri/REUTERS

Só uma calamidade impedirá Donald Trump, o magnata do sector imobiliário e estrela da reality-tv convertido em candidato presidencial, de alcançar uma importante vitória nas eleições primárias do New Hampshire – o pequeno estado da Nova Inglaterra que se gaba da sua reputação de independência e imprevisibilidade, e também de prever com exactidão os nomes dos concorrentes que vão disputar a Casa Branca em Novembro.

Trump, que lidera as sondagens com quase 20 pontos de diferença sobre os seus adversários, espera iniciar no New Hampshire o caminho para a nomeação republicana, depois do revés sofrido no Iowa, o primeiro estado a votar e onde apesar do favoritismo, o milionário ficou em segundo lugar, atrás do ultra-conservador senador do Texas, Ted Cruz.

A contrariedade, claramente inesperada, recordou as dúvidas sobre a capacidade da campanha de Trump para converter popularidade em votos que foram apontadas assim que lançou na corrida. Agora, o candidato que promete “fazer a América grande outra vez”, e que manteve a sua vantagem constante em 70 sondagens consecutivas no New Hampshire, prepara-se para desfazer esse equívoco e calar os críticos. E com uma vitória sólida, a sua rota até à convenção republicana volta a ser a mais viável no preenchido campo republicano.

Mesmo assim, corrida republicana continua aberta e imprevisível. A luta pelo segundo lugar no New Hampshire ganhou um novo interesse depois do debate televisivo de sábado, que veio baralhar as contas das campanhas e devolver competitividade à batalha pelo apoio do establishment do Partido Republicano. Tradicionalmente mais pragmáticos e menos dados a alterações de humor do que os seus adversários democratas, os eleitores republicanos começam cedo a consolidar o voto em torno das candidaturas mais viáveis, na perspectiva do embate definitivo de Novembro.

Desastre de Rubio
O senador da Florida, Marco Rubio, era quem se encontrava em melhor posição para assumir o papel de político moderado e capaz de atrair o eleitorado do centro para o campo dos conservadores nessa derradeira votação, mas um desempenho desastrado no confronto televisivo veio pôr em causa a sua estaleca política. Apertado pelos adversários, Rubio não suportou a pressão e claudicou, o que abriu o campo aos três candidatos que competem com ele pela preferência do eleitorado republicano do chamado mainstream: os três governadores Jeb Bush (Florida), Chris Christie (Nova Jérsia) e John Kasich (Ohio).

O golpe na credibilidade de Rubio – a que os analistas americanos se referem sempre como “elegibilidade” – deixa em risco a estratégia 3-2-1 da sua campanha. Conforme explicaram os seus assessores, o caminho do jovem senador da Florida para a nomeação passava pelo terceiro lugar no Iowa, o segundo no New Hampshire e o primeiro na Carolina do Sul; as sondagens divulgadas desde domingo mostram a sua candidatura em perda, com ganhos correspondentes dos seus rivais directos. Mais significativamente, revelam que 49% dos eleitores republicanos permaneciam indecisos ou abertos a mudar o seu voto na véspera da ida às urnas.

Bush, Christie e Kasich não desperdiçaram a oportunidade de explorar as vulnerabilidades da candidatura de Rubio patentes no debate televisivo. “Quando o holofote se vira para nós, ou brilhamos ou derretemos. Não podemos dar-nos ao luxo de nomear um candidato que derrete quando a temperatura sobe”, insistiu Chris Christie, esta segunda-feira. “Ele [Marco Rubio] é um homem com vários talentos, mas nenhum deles nos garante que é capaz de tomar decisões difíceis quando conta”, acrescentou Jeb Bush.

Os três sabem que o soluço do jovem senador levou a parcela dos eleitores do New Hampshire que permaneceram imunes ao discurso populista e anti-sistema tanto de Donald Trump como de Ted Cruz a reconsiderar o seu sentido de voto. O último dia de campanha foi um verdadeiro frenesim, com os governadores a jogarem todos os trunfos. Apesar do percalço, Marco Rubio não está fora de jogo, e o desfecho da votação no New Hampshire pode ser determinante para a viabilidade futura de algumas destas candidaturas. “O nosso autocarro parte daqui para a Carolina do Sul”, prometeu um confiante John Kasich, que já tem oito acções de campanha agendadas entre quarta e sexta-feira.

Clinton a subir
À semelhança do que acontece no lado republicano, as primárias do New Hampshire também já têm um vencedor anunciado, o senador do estado vizinho do Vermont, Bernie Sanders, que mantém uma expressiva margem de 14 pontos sobre Hillary Clinton (54% contra 40%, de acordo com a sondagem da CNN). O veterano e popular político de esquerda joga em casa, não tanto por razões geográficas, mas porque o eleitorado do New Hampshire é francamente mais liberal e progressista.

Nas primárias de 2008, Clinton arrancou uma vitória surpresa quando todas as sondagens favoreciam Barack Obama, que vinha embalado por uma votação histórica nos caucus do Iowa. Mas ninguém acredita que a candidata possa repetir a façanha. Se acontecer, será uma reviravolta extraordinária.

Porém, durante o fim-de-semana, Hillary Clinton conseguiu reduzir para metade o intervalo que a separava de Sanders (o autoproclamado senador socialista chegou a deter uma vantagem de 30 pontos sobre a ex-secretária de Estado). Tudo leva a crer que o empate virtual entre os dois candidatos, no Iowa, não provocou os mesmos danos no campo de Clinton do que a vitória de Obama há oito anos: desta vez, o seu favoritismo a nível nacional permanece inalterado.

Ainda assim, o combate pelo New Hampshire fez alguma mossa nas duas candidaturas. Os apoiantes de Bernie Sanders – que tem feito questão de fazer uma campanha “limpa” no que diz respeito a ataques pessoais – manifestaram uma animosidade ainda não vista contra Hillary Clinton, com críticas que o seu marido, Bill Clinton, repudiou como “demasiado imorais e profanas para repetir”.

O antigo Presidente dos EUA lamentou o tom sexista e misógino dos ataques dirigidos contra Clinton a coberto das redes sociais, mas na defesa da candidatura da mulher, também se excedeu, mostrando-se zangado com a alegada “deslealdade” dos eleitores do New Hampshire que no passado votaram por ele e por Hillary, chegando mesmo a insinuar que considerava a sua opção por Bernie Sanders como uma espécie de afronta pessoal.

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