Combates mataram 400 a 500 pessoas no Sudão do Sul

Informações sobre vítimas foram prestadas pelos hospitais. Nações Unidas ainda não conseguiram confirmar os números mas receiam uma guerra civil entre grupos étnicos rivais.

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Refugiados numa das instalações das Nações Unidas em Juba Reuters

Combates entre grupos rivais ocorridos nos últimos dias em Juba, capital do Sudão do Sul, terão causado a morte de 400 a 500 pessoas, segundo informações obtidas pelas Nações Unidas nos hospitais locais.

O secretário-geral adjunto para as operações de manutenção de paz, Hervé Ladsous, que avançou o provável número de mortos ao Conselho de Segurança, acrescentou que as mesmas fontes indicam que outras 800 pessoas foram feridas nos confrontos entre forças fiéis ao Presidente, Salva Kiir, e os opositores.

Hervé Ladsous informou também, segundo a AFP, que cerca de 15 mil pessoas procuraram refúgio em instalações das Nações Unidas na zona de Juba, depois de os confrontos terem começado, na noite de domingo.

As Nações Unidas não conseguiram ainda confirmar as informações sobre mortos e feridos. “Alguns relatos falam em centenas de baixas. Por agora não podemos confirmá-lo, mas é em todo o caso um balanço pesado”, disse à BBC o embaixador francês nas Nações Unidas, Gérard Araud, que ocupa a presidência rotativa do Conselho de Segurança.

Gérard Araud considera que há “potencial para uma guerra civil”, no país que se tornou independente em 2011. Os Estados Unidos ordenaram a retirada do país de pessoal não essencial.

Na segunda-feira, o Presidente denunciou uma tentativa de golpe de Estado e decretou um recolher obrigatório. Salva Kiir acusou elementos fiéis ao seu rival político e ex-vice-presidente, Riek Machar, afastado em Julho, de ter causado combates que foram mais intensos durante toda a noite de domingo e na madrugada de segunda-feira. Machar estará, segundo o Governo, “em fuga”.

“Houve uma tentativa de golpe de Estado, mas falharam e controlámos a situação" afirmou então, citado pela AFP. “Os assaltantes fugiram e estamos a persegui-los”, disse, referindo-se a “um grupo de soldados fiéis ao antigo vice-presidente”.

Numa entrevista divulgada nesta quarta-feira pelo site independente Sudan Tribune, Riek Machar negou a tentativa de tomada do poder. “Não houve um golpe de Estado. O que aconteceu em Juba foi um mal-entendido entre membros da guarda presidencial”, disse. “Não tenho relação ou conhecimento de qualquer tentativa de golpe de Estado”, disse, a partir de local desconhecido.

Observadores da política sul-sudanesa ouvidos pela AFP expressaram na terça-feira dúvidas sobre a tentativa de golpe e admitiram que Kiir possa ter usado esse pretexto para se desembaraçar de Machar, rival de longa data e que anunciou a intenção de se candidatar à presidência em 2015.

Na terça-feira, o Governo anunciou a prisão de dez políticos por envolvimento no “golpe de Estado frustrado”. Oito dos detidos eram ministros do executivo demitido em Julho. Tem havido grande tensão no Sudão do Sul desde essa altura. Na última noite ouviam-se ainda na capital do Sudão do Sul, segundo a AFP, tiros esporádicos de armas ligeiras que pareciam desmentir declarações do Governo de que as autoridades tinham o “controlo total” da situação.

O governador do estado sudanês de Unidade, Simon Kuhn Pounch, declarou no site do Governo que o conflito nada tem a ver com tribos e que estão ao lado de Machar quer elementos da comunidade Dinka – a maior do Sudão do Sul –  quer Nuer, a segunda maior. Observadores da situação sudanesa temem, no entanto, que os confrontos reavivem desavenças antigas e assumam um cariz étnico.

“É crucial que a violência actual não assuma contornos étnicos”,  alertou na terça-feira a Missão das Nações Unidas no Sudão do Sul (Minuss), exortando os “cidadãos e dirigentes a absterem-se de qualquer acto incendiário ou violência, particularmente contra as comunidades”.

Salva Kii é da comunidade Dinka, enquanto Riek Machar é dos Nuer, a segunda maior, explica a BBC. Os Nuer têm-se queixado do domínio dos Dinka.

O Sudão do Sul é o mais novo país do mundo. Após um acordo de paz com o Sudão, que em 2005 pôs fim a uma guerra de décadas, tornou-se independente em Julho de 2011, após um referendo que aprovou a separação.

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