Cheias em Moçambique mataram pelo menos 68 pessoas

Descida das águas do Limpopo causa alívio em Gaza, mas teme-se agravamento da situação na bacia do Zambeze.

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Aspecto de Chókwè, quando as águas subiram na semana passada USSENE MAMUDO/AFP

Subiu para 68 o número de mortos nas cheias em Moçambique – 39 na província de Gaza – mas há pessoas desaparecidas, segundo o balanço feito esta segunda-feira pelo Instituto Nacional de Gestão de Calamidades. O número inclui o total de vítimas desde o início das chuvas, em Outubro.

Citada pela RDP África, a porta-voz do instituto, Rita Almeida, confirmou uma “ligeira tendência de redução” do nível das águas nas bacias hidrográficas e um abaixamento das águas do rio Limpopo. Mas, disse à AFP, pode haver novas inundações na bacia do Zambeze. “A previsão é de mais chuva na província da Zambézia e no Norte de Sofala.”

Rita Almeida quantificou em 112 mil o número de desalojados, mas a porta-voz das Nações Unidas em Maputo, Patricia Nakell, divulgou também, esta segunda-feira, números mais elevados: 150 mil, só na província de Gaza.

O Limpopo, que na semana passada transbordou, causando graves inundações em Gaza, principalmente na cidade de Chókwè, totalmente invadida pela água, e em Guijá, voltou ao leito, ainda que a Patricia Nakell considere a situação “volátil”. A capital provincial, Xai-Xai, cujo alagamento se temia, sofreu inundações nas suas zonas mais baixas, no sábado. Dezenas de milhares de pessoas da província tiveram de procurar refúgio em campos de acolhimento e em lugares mais elevados.

Se as cheias deixarão más memórias a muitos, não será esse o caso de Lurdes Mulhanga, 25 anos. É certo que lamenta a perda da casa, revestida de argila. Mas, como contou a Rádio Moçambique, foi num telhado de Chókwè, para onde fugiu das inundações, que, na semana passada, lhe nasceu a segunda filha. Quando foi vista pelo repórter,  a bebé, ainda sem nome, não tinha sido observada por médicos, mas parecia bem: “Mexe os pés, boceja, chupa o seu punho cerrado, pestaneja, voltar a fechar os olhos e dorme tranquilamente”, relatou.

O problema mais urgente na região é a escassez de alimentos e de água potável, bem como a necessidade de prevenir doenças. No posto de saúde de Guijá, perto de Chókwè, foram, segundo informação recolhida no local pela AFP, tratados 70 casos de diarreia. A ajuda humanitária e sanitária não tinha até esta segunda-feira chegado a lugares que ficaram isolados.

A instalação de uma ponte metálica em Chicumbane devia permitir esta segunda-feira o reatar do tráfego, interrompido na madrugada de sábado, na Estrada Nacional 1, que liga Maputo ao Norte do país, o que melhoraria a ajuda aos sinistrados do Sul. Mais a Norte, a preocupação é prevenir. “Pedimos às pessoas que deixem as casas que possam ser destruídas pela chuva”, apelou Rita Almeida.

As Nações Unidas divulgaram na sexta-feira uma estimativa de 15 milhões de dólares (mais de 11,13 milhões de euros ao câmbio actual) para financiar as operações humanitárias, mas o valor deve revelar-se curto. Na altura, o número de desalojados estava quantificado em cerca de 70 mil. “Em coordenação com o Governo de Moçambique lançaremos em breve um apelo aos nossos parceiros para disponibilizarem fundos adicionais para ajudar a lidar com esta emergência”, disse Jennifer Topping, coordenadora humanitária para Moçambique.

A forma como o Governo tem lidado com as cheias tem sido criticada, quer pela oposição quer por vozes independentes. O semanário Savana criticou na sua última edição o Presidente da República, Armando Guebuza. "Não é admissível que em momentos das chamadas Presidências Abertas, o país tenha, aliás que o presidente tenha, seis helicópteros à sua disposição 24 horas por dia durante várias semanas, mas, neste momento que o ‘maravilhoso povo’ está a precisar de resgate, estes helicópteros não estejam disponíveis."

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