Autor de tweets pornográficos quer ser presidente da Câmara de Nova Iorque

Anthony Weiner já tinha sido obrigado a demitir-se do Congresso. Ainda está à frente nas sondagens.

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O casal Weiner, visivelmente embaraçado Eric Thaye/Reuters

Nos Estados Unidos, um homem com o pseudónimo de Carlos Danger quer ser presidente da Câmara de Nova Iorque. Está à frente nas sondagens. Mas na terça-feira foi obrigado a convocar uma conferência de imprensa para fazer controlo de danos – a imprensa tablóide acabava de publicar a série de mensagens pornográficas enviadas via Twitter por Danger, que é o político democrata Anthony Weiner.

À frente de cem jornalistas (contas do New York Times), Weiner e a mulher, Huma Abedin – visivelmente embaraçados – tentaram passar a ideia de que "Danger" já não existe. Existia no Verão passado, insistiam os jornalistas, desmentindo o casal que já passou por um problema igual. Em 2011, era Weiner congressista, foi obrigado a demitir-se por se saber que enviara mensagens pornográficas a uma estudante que o seguia no Twitter – na sequência da conversa, Weiner mandou-lhe uma fotografia do seu sexo erecto debaixo das cuecas.

"Eu entro no quarto do hotel e tu estás deitada na ponta da cama, nua mas com uns sapatos espectaculares, as pernas escorregadias e os pés assentes no chão", diz parte da mensagem (parte porque a restante é hardcore, datada do Verão de 2012, e assinada "Carlos Danger").

Weiner disse que já esperava por estas notícias: "Eu disse que outras mensagens e imagens iriam surgir nas notícias e foi o que aconteceu. Como já disse, o que fiz no passado foi um erro que fez sofrer a minha mulher. O nosso casamento enfrentou problemas que foram muito além da minha demissão do Congresso".

O candidato tentou, então, que os novos tweets fossem para o mesmo saco da imagem das cuecas. Mas os jornalistas não deixaram. Trata-se de um novo episódio pornográfico, que aconteceu depois das desculpas públicas de 2011.

A mulher de Weiner, antiga colaboradora de Hillary Clinton, que foi primeira-dama e secretária de Estado, disse apoiar o marido e amá-lo. Explicou que foi um esforço grande ultrapassar as actividades do marido sob pseudónimo, mas que o assunto estava encerrado.

Estará? É preciso esperar por novas sondagens para se conhecer o impacto das novas actividades de "Carlos Danger". Logo na terça-feira, o candidato teve uma resposta positiva do eleitorado. Terminada a conferência de imprensa, participou numa conferência sobre HIV e sida e os participantes, na sua maioria membros da comunidade gay e lésbica de Manhattan, aplaudiram-no. "You’re the man", ouviu-se na sala, relata a Associated Press.

Weiner entrou tarde na corrida democrata à presidência da Câmara de Nova Iorque, que vaga no início de 2014 e que foi ocupada durante três mandatos pelo republicano tornado independente Michael Bloomberg – as eleições são a 5 de Setembro.

Uma campanha "improvável"
Os jornalistas chamaram à sua tentativa, e à sua campanha, um acto "improvável". O antigo congressista Anthony Weiner ia tentar ressuscitar-se como político, quando todos acreditavam que a sua carreira morrera; na verdade, poucos se lembravam dele.

Subiu depressa nas sondagens com uma campanha bem planeada e muito centrada nos problemas dos nova-iorquinos: regular o mercado de habitação, melhorar os serviços públicos de saúde, garantir o cumprimento dos direitos cívicos das comunidades (negros, hispânicos, gays, lésbicas). Apresentou-se como um interlocutor, não como um político agarrado à rigidez partidária, e marcou distância (pela positiva) dos outros candidatos, uma atitude que foi um modo de sobrevivência quando o partido manteve a distância em relação a este candidato manchado – e não era uma mancha qualquer, era pornografia na Internet.

Weiner fez a mais solitária das campanhas para a presidência da câmara da história moderna de Nova Iorque, escreveu o New York Times no seu perfil. A camisola de candidato "mais independente do que democrata" agradou aos nova-iorquinos e à classe média que enfrenta cada vez maiores dificuldades.

"É proibido rir"
Na terça-feira, os adversários, Bill de Blasio, Sal F. Albanese (ambos democratas) e John Catsimatidois (republicano), exigiram a sua saída da corrida. "Já chega", disse Blasio, citado pela Associated Press. "A presença dele nesta campanha continua a prejudicar o debate e tem de desaparecer".

Em editorial, o Times defendeu que chegou o momento de o candidato levar "os problemas conjugais e as compulsões pessoais para fora do olhar público, das câmaras de televisão e da Internet, e desistir". Um artigo de opinião do New York Post dizia aos eleitores que não cedam à primeira tentação e reflictam no que se está a passar – "É proibido rir" deste caso, lia-se no texto.

"Tenho a certeza de que muitos dos meus opositores gostariam que eu desaparecesse", previra Weiner na sua conferência de imprensa, que deu com as mangas da camisa arregaçadas.

Não desistiu, mas alguma coisa mudou na sua campanha. A edição desta quarta-feira do Daily Beast – na mesma linha do "isto não é para rir" do Post  –  tinha, em manchete, este título: "'Carlos Danger' à frente das sondagens".

 

 
 
 
 
 
 
 

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