Não é dentro das muralhas da Cidade do Vaticano, mas fica no centro da vida do Vaticano, no bairro Borgo Pio, junto à rua do Mascherino. É num edifício onde vivem cardeais, encostado ao quartel da Guarda Suíça que a APSA, a agência da Santa Sé que gere as propriedades, quer abrir um restaurante da cadeia McDonald's. Os habitantes estão contra e os cardeais, a quem foi pedida uma contribuição nas despesas de recuperação do local, mais ainda.

A propriedade em causa foi deixada vazia por um banco há algum tempo. Durante o Verão, os cardeais que vivem no complexo receberam uma carta da APSA, na prática, a sua senhoria, a informá-los de que parte dos custos das obras necessárias ia ser deduzido dos seus salários, explica a agência pública de notícias italiana (ANSA).

No acordo da APSA com a empresa americana ficou estipulado que a propriedade de 538 metros quadrados seria arrendada por “dezenas de milhares de euros, três vezes mais do que as ofertas que recebera anteriormente pelo local”. Mas para o restaurante de fast food abrir portas tem de ser construída uma chaminé especial, no espaço de elevador que já existe mas não é utilizado, e que, provavelmente, contraria os regulamentos camarários (neste caso, o Vaticano não estaria isento de os cumprir).

Ainda segundo a ANSA, os cardeais não estão descontentes pelos cortes no salário, mas sim por não terem sido consultados antes da decisão de se avançar para o arrendamento. 

O primeiro grupo a levantar problemas foi o Comité para a Protecção do Borgo, defendendo que a abertura do restaurante vai distorcer o ambiente da zona e infligir “um golpe decisivo num animal já ferido”, tendo em conta a quantidade de minimercados e quiosques de parafernália religiosa que por ali existem. 

O lugar onde o novo McDonald's deverá surgir é muito frequentado por cardeais e outros religiosos que vivem no Vaticano – aliás, Ratzinger viveu ali mesmo, antes de ser Bento XVI. Entre os cardeais que hoje habitam o complexo contam-se Gianfranco Ravasi, Andrea Cordero Lanza di Montezemolo e o português Manuel Monteiro de Castro. 

O Vaticano desmente que tenha sido pedido aos inquilinos para partilharem os custos das obras e garante que apenas foram notificados das renovações por causa do elevador e da chaminé. Normalmente, os cardeais não pagam exactamente renda; têm apenas de pagar as contas e, quando se reformam, costuma-lhes ser cobrada uma mensalidade de sete a dez euros por metro quadrado. Já o actual Papa Franscisco escolheu viver nas modestas instalações da Casa de Santa Marta.

Os críticos do arrendamento à cadeia de hambúrgueres ainda não desistiram. Esperam poder fazer valer-se de uma decisão em Florença, onde foi recusada a abertura de um McDonald's a alguns metros da Porta de Sant'Anna para proteger a herança cultural do centro histórico.