Bradley Manning absolvido do crime de "auxílio do inimigo"

Jovem militar que passou documentos secretos à WikiLeaks evita pena de prisão perpétua, mas pode ser condenado a um máximo de 154 anos de cadeia.

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Apoiantes de Manning à porta do tribunal Alex Wong/Getty Images/AFP

Bradley Manning, o soldado responsável pela divulgação de milhares de documentos secretos do Governo dos Estados Unidos e publicados pela WikiLeaks, foi absolvido da acusação de "ajuda do inimigo", que lhe teria valido uma pena de prisão perpétua sem possibilidade de liberdade condicional.

No entanto, a juíza militar encarregada do caso considerou o soldado culpado dos restantes 21 crimes de que estava acusado, nomeadamente espionagem, pelo que Manning pode vir a ser condenado a um máximo de 154 anos de cadeia. A pena vai ser anunciada nesta quarta-feira.

“Perigoso extremismo, em matéria de segurança nacional, da Administração Obama" escreveu a WikiLeaks na sua conta de Twitter, reagindo à sentença.

O cabo, agora com 25 anos, foi acusado de um total de 22 crimes por ter descarregado mais de 700 mil ficheiros confidenciais de servidores do Pentágono e do Departamento de Estado norte-americano – posteriormente fornecidos à organização WikiLeaks, fundada por Julian Assange, com quem entretanto se começara a corresponder.

Entre Abril e Dezembro de 2010, a WikiLeaks publicou na íntegra toda a informação passada por Bradley Manning: os chamados "War Logs", relativos à documentação militar das guerras do Iraque e Afeganistão, e o "Cablegate", com 250 mil telegramas diplomáticos.

O militar, que cumpriu a função de analista informático no Iraque entre 2009 e 2010, admitiu ser a fonte da WikiLeaks e assumiu a culpa de dez dos crimes de que foi acusado, como a posse não-autorizada de informação pertinente para a defesa nacional e fraude informática, que implicam uma pena de prisão de cerca de 20 anos. A sua intenção, explicou à juíza Denise Lind, era fomentar o debate interno sobre a segurança nacional e a política externa do Governo dos Estados Unidos.

Usando um processo datado da Guerra Civil como jurisprudência, o Governo alegou que a divulgação de documentos militares configurava um crime de "auxílio do inimigo".

Nas suas alegações finais, o procurador militar major Ashden Fein argumentou que o analista não era "nenhuma alma torturada e perdida mas sim um soldado determinado que tinha o conhecimento, a competência e o desejo de prejudicar o esforço de guerra norte-americano", e por isso decidira "divulgar todo o material classificado a activistas anti-governo e anarquistas, para garantir maior exposição na sua busca individual por notoriedade".

Pelo contrário, a defesa descreveu Manning como um cidadão "preocupado", "desiludido" e "deprimido" com o comportamento do seu Governo, depois de experimentar os horrores da guerra.

O seu advogado – e o próprio Manning, que leu uma declaração – contestaram veementemente a acusação de traição e ajuda ao inimigo, argumentando que todos os ficheiros enviados à WikiLeaks se referiam a casos e situações que já se tinham alterado ou até mesmo cessado.

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