Ataque com mísseis contra autocarros de refugiados mata dezenas de civis na Ucrânia

Exército e separatistas acusam-se mutuamente da autoria do bombardeamento.

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Campo de refugiados ucranianos nos arredores de Donetsk / DMITRY SEREBRYAKOV/AFP

Dezenas de pessoas, incluindo mulheres e crianças, que fugiam em autocarros da cidade de Lugansk, no Leste da Ucrânia, morreram nesta segunda-feira quando os veículos em que seguiam foram bombardeados com mísseis. Mas quem os disparou? O Governo de Kiev diz que foram os separatistas pró-russos. Estes negam ter capacidade para levar a cabo um tal ataque, e acusam o exército ucraniano.

“Um poderoso ataque de artilharia atingiu uma coluna de refugiados entre as cidades de Khriashchuvatie and Novosvitlivka. A força das explosões foi tão grande que as pessoas ficaram queimadas nos autocarros – nem conseguiram sair”, afirmou o porta-voz militar Anatoli Proshin, citado pela Reuters.

Outro porta-voz da operação militar que está a ser levada a cabo no Leste do país desde Abril acusou os separatistas de serem os autores deste ataque. “Os terroristas disparam mísseis contra os refugiados. Estamos ainda a apurar quantas pessoas terão morrido.”

Mas Andrei Purgin, vice-primeiro-ministro da auto-proclamada República Popular de Donetsk – outra das cidades controladas pelos independentistas que ainda resiste aos avanços do Exército ucraniano – garante que as forças separatistas não estavam capacitadas para um ataque como o que destruiu os autocarros. “Os ucranianos é que têm bombardeado aquela estrada constantemente com aviões e Grads. Agora mataram mais civis, como têm feito nos últimos meses. Nós não temos capacidade para enviar Grads para essa zona”, garantiu, citado pela Reuters.

O Presidente ucraniano, Petro Poroshenko, anunciou entretanto que Kiev vai rever a sua estratégia militar no Leste. Até agora, cercavam-se os principais bastiões dos separatistas pró-russos, com combates cada vez mais mortíferos, tanto para soldados como para civis. O Exército revelava grande dificuldade em penetrar nas cidades. A partir de agora, “as forças serão reagrupadas para fragmentar a zona controlada pelos separatistas”, para “impedir que sejam reabastecidos com armas e equipamentos através da fronteira com a Rússia”, afirmou.

Os combates têm sido intensos em torno de Lugansk, de onde fogem diariamente cerca de 500 pessoas, diz a Reuters. A cidade é ainda controlada pelos separatistas, mas há duas semanas que não tem água nem electricidade – e segunda-feira, pela primeira vez, surgiram notícias de que tropas ucranianas entraram no perímetro urbano, içando uma bandeira numa esquadra de polícia. Mas não assumiram ainda o controlo da cidade.

Em Donetsk, a outra cidade-bastião dos separatistas, a situação não é melhor. Desde domingo, foi completamente cortada a água na cidade, porque a principal unidade de tratamento de água ficou sem electricidade por causa dos combates. Segunda-feira, havia longas filas nas ruas para comprar água mineral – vendia-se avulso, mais barato, se as pessoas levassem os seus próprios garrafões e garrafas, constaram os repórteres da AFP. Nesta cidade de estilo soviético, de um milhão de habitantes, não há fontes e os poços são raros.

A ajuda humanitária russa continua bloqueada junto à fronteira, apesar do acordo a que a Ucrânia e a Rússia chegaram no fim-de-semana sobre as formas como a Cruz Vermelha Internacional fará a inspecção dos 280 camiões que a transportam. Falta garantir as condições de segurança, uma vez que será preciso atravessar zonas onde há intensos combates.

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