Ataque ao Parlamento pode ser prelúdio de um perigoso conflito na Líbia

Milícias islamistas e seculares em rota de colisão depois dos combates dos últimos dias em Bengasi e em Trípoli.

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O ataque ao Parlamento terá sido feito a mando do ex-general Khalifa Haftar Esam Omran Al-Fetori/AFP

Uma linha divisória começa a desenhar-se no caos que se vive na Líbia: de um lado, as milícias islamistas que fazem lei em Bengasi, o berço da revolução contra Muammar Khadafi, e controlam boa parte de Trípoli; do outro, uma nebulosa de grupos armados – nacionalistas, federalistas, ex-militares – que parecem dispostos a esquecer as lutas recentes e a formar uma aliança de circunstância para derrotar os adversários. O caótico ataque ao Parlamento, no domingo, pode ter sido o prelúdio de um conflito com riscos elevados para o país.

Mais de 24 horas depois do assalto, que incluiu metralhadoras pesadas e armas antiaéreas, não eram claras as suas consequências. Durante a noite, Mojtar Farnana, um antigo comandante da polícia militar oriundo de Zintan, foi à televisão anunciar a dissolução do Congresso Nacional e a sua substituição pelo comité de 60 personalidades que foi incumbido de redigir a nova Constituição.

Vestido com uniforme, Farnana disse que o ataque – executado pelas brigadas de Zintan, um dos poderosos grupos armados do país – foi feito a mando de Khalifa Haftar, um antigo general que, à revelia do Governo, lançou sexta-feira uma ofensiva contra as milícias islamistas de Bengasi, provocando 74 mortos e mais de 150 feridos. “Anunciamos ao mundo que o país não pode ser uma incubadora do terrorismo”, afirmou Farnana, acusando os partidos islamistas, maioritários no Parlamento, de darem cobertura aos jihadistas que se têm aproveitado do caos para reforçar a sua presença no Leste do país.

O Governo repudiou o ataque, que tratou como uma tentativa de golpe de Estado, e assegurou que todas as instituições estão a funcionar. “Eles não representam ninguém e não têm qualquer autoridade para suspender o Parlamento”, disse o deputado Ala’a Megaryef ao jornal Le Monde. Os milicianos retiraram ainda durante o dia de domingo para a zona do aeroporto, onde combates com forças rivais terão provocado pelo menos dois mortos.

No entanto, são cada vez mais os apoios ao grupo de Haftar, um general que na década de 1980 se rebelou contra Khadafi, vivendo exilado nos EUA até 2011, e que em Fevereiro surgiu na televisão a propor a formação de um governo provisório para superar a crise política no país. Depois de Ibrahim Jathran, o líder da milícia que no Verão passado ocupou os terminais petrolíferos do Leste, quase paralisando as exportações de crude, nesta segunda-feira foi a vez da guarnição da base aérea de Tobruk, no Leste, se colocar ao lado do general.

Observadores citados pela AFP admitem que o ataque ao Parlamento terá sido um teste para Haftar medir forças com os rivais e avaliar a reacção, dentro e fora do país, a uma intervenção militar para pôr fim ao actual caos. Só que, ao contrário do Egipto, a Líbia não tem ainda um Exército e uma ofensiva deste género pode ser o rastilho para uma guerra civil.   

Face à instabilidade, a Arábia Saudita encerrou a sua embaixada em Trípoli e repatriou todo o seu pessoal diplomático, e várias companhias aéreas cancelaram os voos para a capital líbia, alegando razões de segurança.
 

   

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