"Ainda há muito a fazer" para afastar o Irão da bomba nuclear

Responsável máximo da AIEA elogia as primeiras medidas de Teerão mas pede uma "clarificação" sobre as ambições nucleares do Irão e exige mais acesso dos seus inspectores ao país.

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Rohani acusa o Ocidente de querer travar o programa nuclear que Teerão garante ser para fins pacíficos Keith Bedford/reuters

O director-geral da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) pediu ao Irão para responder às preocupações sobre uma possível vertente militar do seu programa nuclear, considerando que ainda há muito a ser feito antes de ser possível sanar definitivamente o conflito entre Teerão e a comunidade internacional.

As primeiras medidas adoptadas pelo Irão “representam uma etapa positiva, mas ainda há muito a fazer para resolver todas as questões em suspenso”, declarou Yukiya Amano no início da reunião do conselho de governadores da AIEA, que se prolonga até quarta-feira em Viena.

O japonês considera “essenciais” dois pontos: uma “clarificação de todas as questões relativas a uma possível dimensão militar” do programa nuclear iraniano e a “aplicação por parte do Irão do protocolo adicional” que permitiria, entre outras coisas, inspecções mais frequentes da AIEA.

Esta declaração é feita um dia depois do Presidente iraniano, Hassan Rohani, ter acusado os ocidentais de quererem travar os desenvolvimentos do programa nuclear do seu país. “A AIEA já fez milhares de horas de inspecções e já afirmou que não há nenhum sinal de um desvio do programa nuclear iraniano em direcção a um objectivo militar”, declarou Rohani num discurso que foi transmitido pela televisão estatal.

Mas Yukiya Amano considera que, sem a total cooperação do Irão, a agência internacional “não está em condições de concluir que todos os materiais nucleares no Irão são para uma utilização pacífica”. Um relatório de finais de Novembro da AIEA indica que desde 2003 que o Irão estaria a trabalhar para construir uma bomba atómica. Teerão sempre negou querer obter um arsenal nuclear.

A possível dimensão militar do programa nuclear iraniano é timidamente referida num roteiro concluído no início de Fevereiro, onde o Irão se compromete a explicar até ao dia 15 de Maio o nível de desenvolvimento de detonadores utilizáveis numa bomba em que está.

As negociações a AIEA são separadas, mas estão intimamente ligadas às que estão a ser conduzidas pelo grupo 5+1 (EUA, França, Reino Unido, Rússia, China e Alemanha). No dia 24 de Novembro do ano passado, o Irão concluiu com as grandes potências um plano de acção para seis meses que prevê, sob estreita vigilância da AIEA, o congelamento de certas actividades nucleares em troca de uma diminuição das sanções internacionais que prejudicam a economia iraniana.

O acordo está a ser aplicado desde 20 de Janeiro e “até agora, as medidas foram implementadas como previsto”, sublinhou Amano. A diluição do stock de urânio enriquecido até 20% “já atingiu a metade”, precisou. O enriquecimento de urânio até 20% preocupa os ocidentais e Israel, porque se trata de um nível tecnicamente próximo do que é necessário para o fabrico de uma bomba nuclear.

Os negociadores da AIEA querem transformar o plano de acção – até 20 de Julho, se possível – num acordo definitivo que acabe com todas as sanções económicas em troca de garantias sólidas de que o Irão não vai fabricar a bomba. Mas o clima é de optimismo prudente e são muitos os peritos e diplomatas que consideram improvável a conclusão de um acordo no espaço de seis meses. O mais provável é que, por consentimento mútuo, seja alargado o calendário do plano de acção até Novembro.

“As negociações estão a correr bem”, limitou-se a dizer o chefe da diplomacia iraniana, Mohammad Javad Zarif, em declarações feitas a semana passada.

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