Cubanos há 50 anos com caderneta de racionamento nas mãos

Raúl Castro anunciou o seu fim progressivo em finais de 2010, depois de ter retirado o tabaco e os produtos de higiene da famosa libreta, instituída em 1963 por Fidel.

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A caderneta foi instituída em 1963 para fazer face à escassez de produtos no país AFP

Tem uma sentença de morte anunciada desde 2010, mas ainda alimenta cerca de 60% da população cubana. A caderneta de racionamento instituída por Fidel Castro, que já chegou a alimentar famílias inteiras durante todo o mês, faz 50 anos.

Ao longo de grande parte da sua existência, a libreta serviu para pôr carne e leite na mesa de milhões de cubanos e deu-lhes acesso a artigos de higiene, mas também a cigarros, por exemplo. Quando foi implementada, a 12 de Julho de 1963, surgiu como uma forma de colmatar a escassez de produtos no país, que o regime de Fidel Castro atribuía ao bloqueio económico dos Estados Unidos – Havana importava bens essenciais e depois disponibilizava-os aos cidadãos em postos de abastecimento criados pelo Governo.

Nos últimos anos, a lista de produtos disponíveis na caderneta tem encolhido, à medida que o valor da comparticipação do Estado se tem tornado numa dor de cabeça para as contas do país – estima-se que ultrapasse os mil milhões de dólares por ano, a que se somam muitos outros milhões desembolsados pelos próprios cubanos no mercado paralelo.

O primeiro indício de que a caderneta de racionamento tinha os dias contados surgiu a 18 de Dezembro de 2010, pela voz de Raúl Castro, perante o Parlamento. "Estou convencido de que vários problemas que enfrentamos hoje têm a sua origem nesta medida de distribuição, que constitui uma manifesta expressão de igualitarismo, que beneficia da mesma forma os que trabalham e os que não trabalham", declarou o mais jovem dos irmãos Castro.

O líder cubano disse aos deputados que o país não podia continuar a gastar milhões a importar vários produtos para disponibilizá-los à população a custos reduzidos e fez saber que alguns desses produtos deveriam ser produzidos  pelos próprios cidadãos.

Em Setembro de 2010, Raul Castro ordenou a retirada do tabaco e dos artigos de higiene pessoal da caderneta de racionamento. Com o fim da União Soviética, primeiro, e agora com os problemas económicos da Venezuela, a margem para a existência da libreta vai sendo cada vez mais reduzida.

Em Abril de 2011, o VI Congresso do Partido Comunista de Cuba começou a discutir o fim progressivo da caderneta de racionamento, mas a medida foi recebida com grande contestação nas ruas.

"Despedir trabalhadores ociosos, fechar empresas, criar novos impostos, incentivar o trabalho por conta própria, tudo isso se pode discutir. Pode ser bom ou pode ser mau. Ninguém sabe. Mas se o Governo quer realmente acabar com a libreta, estará a cometer um genocídio", disse a cubana Ivany Valdés, uma médica de 52 anos, citada pelo portal brasileiro iG. José Escobedo, um agricultor reformado de 82 anos, preferiu a ironia para reagir à intenção do regime cubano: "O Governo está certo. A culpa de todos os males de Cuba é da libreta, não é dos políticos."

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