Vedação da Sinagoga do Porto vai ser reforçada

Projecto com financiamento aprovado no final de Dezembro pela Agência Judaica Mundial vai começar a ser concretizado no dia 26 de Janeiro.

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A sinagoga do Porto é uma das maiores da Europa Nelson Garrido

Nem a sinagoga de uma das cidades mais seguras para os judeus escapa à necessidade de reforço da segurança contra visitas indesejadas. O templo Mekor Haim, na Rua de Guerra Junqueiro, no Porto, está a ser alvo de várias intervenções e o muro que rodeia as laterais e a traseira do edifício vai ser reforçado com uma vedação em metal. À frente, o gradeamento existente vai ser mantido.

A comunidade judaica do Porto não sente, como outras pelo mundo, sinais de qualquer incremento de antissemitismo. Mas entre os visitantes, a percepção é outra. Recentemente, a vice-presidente da Comunidade Israelita do Porto (CIP), Isabel Ferreira Lopes, recebeu dois casais franceses que, face aos acontecimentos de há duas semanas em Paris, mostraram algum receio mas ficaram muito agradados com o ambiente calmo que envolve o templo judaico no Porto. “Chegaram a admitir que consideravam a cidade como uma boa opção para residência futura”, explicou ao PÚBLICO a porta-voz da CIP.

O reforço estrutural dos muros de pedra, construídos há quase quatro décadas, tal como a sinagoga, vai ser aproveitado para a colocação de uma vedação, aproveitando fundos da Agência Judaica Mundial. Mas a alteração ainda não foi pedida à câmara do Porto, assume Isabel Lopes que, face ao tipo de intervenção, considerava não ser necessário o licenciamento. Fonte da autarquia assegurou, contudo, que qualquer alteração nos muros confinantes com a via pública tem de passar pelo crivo do departamento de urbanismo. 

O Código Regulamentar do Município do Porto define que "à face da via pública, os muros de vedação não podem ter altura superior a 1,70 metros”, menos do que os dois metros admitidos até há algum tempo. Alturas superiores até podem ser aprovadas pelos serviços, “desde que devidamente fundamentadas” e aspectos como a segurança, e o impacto da obra no espaço público, entram na avaliação destes pedidos. 

Isabel Ferreira Lopes explicou ao PÚBLICO que as medidas de reforço de segurança são normais em muitas instituições judaicas em cidades por esse mundo fora, face a manifestações, frequentes em alguns países, de antissemitismo. Só em França, no ano passado, foram reportados mais de uma vintena de actos, isolados ou praticados por grupos, visando membros desta comunidade religiosa. Atenta a estes fenómenos, a Agência Judaica Mundial tem um programa de intervenções nos espaços mais frequentados por judeus, como escolas ou sinagogas. E a do Porto, fundada em 1938 pelo capitão Barros Basto, estava na lista. 

O templo portuense tem já razoáveis medidas de segurança: videovigilância, seguranças e até um cão, no interior dos terrenos, e uma presença constante de agentes da PSP no exterior. “Não temos medo. Mas também sabemos que os problemas acontecem onde menos se espera, e em locais mais expostos”, afirmou a vice-presidente da CIP, justificando a necessidade de erguer a vedação. À Lusa, questionado sobre a forma como os judeus se sentem actualmente em território português, o rabino da Comunidade Judaica do Porto, Daniel Litvak, reconhecido pelo Rabinato Chefe de Israel, disse que "Portugal é, talvez, o único país da Europa onde se pode andar de kipá na cabeça” sem correr riscos de ser incomodado ou insultado. O kipá é um chapéu usado por judeus do sexo masculino como sinal de respeito a Deus.

A Sinanoga Kadoorie Mekor Haim (Fonte da Vida), foi inaugurada em 1938, 15 anos após a fundação da Comunidade Israelita do Porto por Artur Barros Basto. Foi este o principal impulsionador da recolha dos fundos necessários para a construção do templo que carrega no nome o apelido da família Kadoorie, que ofereceu cinco mil libras para a obra daquela que é, ainda hoje, a maior sinagoga da península e uma das maiores da Europa.

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