Seiva Trupe fora do Teatro do Campo Alegre, no Porto

Negociações estão encerradas. A companhia teatral anuncia, no Facebook, que o caso será resolvido pelos tribunais.

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A câmara garante que a auditório principal do teatro não chegava a ter uma ocupação de 1% Paulo Ricca

A Câmara do Porto anunciou, em comunicado, que as negociações com a Seiva Trupe sobre a sua permanência no Teatro do Campo Alegre estão encerradas. O município afirma que a companhia teatral “recusou todas as alternativas propostas” pelo município. Na sua página do Facebook, a Seiva Trupe garante que o caso será resolvido pelos tribunais.

O comunicado da Câmara do Porto começa por indicar que a autarquia “reconhece o papel histórico que a companhia de teatro Seiva Trupe desempenhou na promoção cultural na cidade”, mas afirma, em seguida, que esta “demonstrou, nos últimos anos, não ter capacidade para suportar os custos inerentes à permanência como companhia residente do Teatro do Campo Alegre, assim como não apresentou nem apresenta condições para manter uma programação continuada compatível com tal estatuto”. A câmara garante que a auditório principal do teatro não chegava a ter uma ocupação de 1%, “o que corresponde a cerca de dois espectadores por dia”.

Por este motivo, acrescenta o documento, a câmara apresentou à Seiva Trupe “várias alternativas financeiramente sustentáveis e compatíveis com a actual actividade da companhia […], mas sem o estatuto de companhia residente”. Uma condição de que a Seiva Trupe não estava disposta a abdicar, conforma já indicara ao PÚBLICO um dos principais rostos da companhia portuense, António Reis.

O PÚBLICO contactou, na manhã desta sexta-feira, os responsáveis da Seiva Trupe, que remeteram a sua posição para um texto publicado na página do Facebook da companhia, na qual se recorda o processo de construção do Teatro do Campo Alegre, indicando: “O teatro existe porque existe a Seiva Trupe. Ele foi construído para a Seiva Trupe pelo facto de termos aceite sair do velho Teatro do Campo Alegre, de livre vontade, sem qualquer tipo de indemnização a não ser a alternativa do novo Teatro”.

A companhia lamenta que o novo executivo camarário não tenha trazido, na sua opinião, uma mudança efectiva ao “pensamento” governativo da cidade. “A esperança de um novo pensamento na Câmara do Porto, que tantas e tantas pessoas nos têm vindo a dar ao longo de todo este período negro, com prejuízos incalculáveis, por que estamos a passar, e que diariamente se dirigem aos elementos do núcleo base da Seiva Trupe, esfumou-se”, refere o comentário.

A Seiva Trupe garante que o teatro “foi construído e concebido” para a companhia “ao centímetro” e garante que foi ela a primeira a “avisar a tutela da queda de público pela grave crise que o país está a passar”. Contudo, nega os níveis de ocupação indicados pela câmara. “Nunca atingimos a percentagem que forneceram à câmara, agora divulgada!”, diz o texto.

A companhia teatral com 40 anos de existência acrescenta que nunca avaliou a possibilidade de se tornar “uma companhia municipal” e defende que as condições propostas pela câmara durante o processo negocial “nada, mas absolutamente nada têm a ver com os motivos que foram tornados públicos como justificação do assalto ao nosso Teatro pela polícia às 1h10 – madrugada de 17 de Outubro”.

Aos espectadores, a Seiva Trupe garante que não vai desistir de lutar e traçam o palco das próximas batalhas: “Os doutos tribunais resolverão este caso”.

A Seiva Trupe foi despejada do Teatro do Campo Alegre, a dias do executivo de Rui Rio abandonar a Câmara do Porto, depois de não ter pagado as prestações de Agosto e Setembro relativas ao saldo de uma dívida de 50 mil euros à Fundação Ciência e Desenvolvimento – a entidade municipal que geria o equipamento cultural e o Planetário. Após a tomada de posse do novo executivo, iniciaram-se as negociações entre a companhia e o novo vereador da Cultura, Paulo Cunha e Silva. Ao fim de quase dois meses, a câmara anuncia: “Processo negocial está encerrado”.
 
 

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