Depois do despejo, Câmara do Porto e Seiva Trupe negoceiam solução

Companhia reafirma intenção de pagar as prestações vencidas e de permanecer no Teatro do Campo Alegre.

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Companhia foi despejada no passado dia 16 de Outubro Dato Daraselia/Arquivo

O vereador da Cultura da Câmara do Porto, Paulo Cunha e Silva, e responsáveis da Seiva Trupe reuniram-se na manhã desta quinta-feira, para discutir a possibilidade de a companhia regressar ao Teatro do Campo Alegre, de onde foi despejada na madrugada do passado dia 16 de Outubro. No final do encontro, António Reis, da Seiva Trupe, mostrou-se animado. O vereador disse querer “resolver a situação o mais rapidamente possível”.

Paulo Cunha e Silva garante que a situação da Seiva Trupe foi a sua primeira preocupação como vereador. “A primeira coisa que fiz quanto tomei posse foi ir ao Teatro do Campo Alegre para perceber o que se tinha passado”, disse ao PÚBLICO. Sobre o encontro de ontem, que deverá ser retomado tão breve quanto possível, o vereador da Cultura afirmou: “A câmara está a trabalhar numa solução que respeite o capital histórico da Seiva Trupe. Queremos resolver a situação o mais rapidamente possível. E salvaguardar o respeito que nos merece uma instituição da cidade como a Seiva Trupe”.

Pela Seiva Trupe, António Reis diz que a companhia está agora a aguardar o próximo passo da autarquia. “A câmara ficou com as nossas propostas, em que a questão principal é o nosso regresso ao Campo Alegre”, disse. Reis garante que a companhia não contesta que terá de pagar à autarquia as duas prestações em atraso, que motivaram a desocupação coerciva, por parte do anterior executivo, liderado por Rui Rio. “É óbvio que teremos de pagar as duas prestações, isso não está em causa. Mas, só aceitamos regressar nas mesmas condições, ou seja, ficando no Campo Alegre como companhia residente”, acrescenta.

O contrato entre a Seiva Trupe e a Fundação Ciência e Desenvolvimento (que geria o teatro e está em processo de extinção) estipulava que a companhia teatral ficaria no teatro municipal até ao final de 2014 — prazo que poderia ser prorrogado por períodos de cinco anos. Contudo, a companhia acabaria por ser despejada pela câmara, depois de não ter pagado as prestações de Agosto e Setembro relativas ao saldo de uma dívida de 50 mil euros à FCD.

Despejada a seis dias da tomada de posse de Rui Moreira como novo presidente da autarquia, a Seiva Trupe tem esperança numa solução. “A perspectiva com que saímos da reunião é animadora, porque a câmara podia simplesmente dizer que não nos queria mais [no Campo Alegre]”, afirmou António Reis.

A actividade no Teatro do Campo Alegre está a ser afectada por este caso. Ainda na terça-feira a Cena Lusófona manifestou “solidariedade” com a Seiva Trupe, emitindo um comunicado em que anuncia o adiamento de quatro espectáculos previstos para o Campo Alegre, no âmbito da Mostra de Teatro Galego, e responsabilizando a câmara por esse facto. “Consciente dos prejuízos artísticos e financeiros decorrentes desta lamentável situação, a Cena Lusófona não pode deixar de expressar a sua indignação pela irresponsabilidade demonstrada pelo anterior executivo autárquico do Porto”, lê-se no comunicado.

Ao mesmo tempo que procura um entendimento com a câmara, a Seiva Trupe tenta também travar a “desocupação coerciva” na justiça. Ainda antes do despejo, o advogado da companhia avançara com uma providência cautelar, na tentativa de suspender a eficácia de qualquer ordem de desocupação. Contudo, a câmara só viria a ser notificada desta acção na manhã do dia 17, algumas horas depois de ter efectivado o despejo, procedendo mesmo à mudança de fechaduras do edifício. com S.C.A.
 

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