Investimento de cinco milhões no hospital de Faro adia nova unidade de saúde

O primeiro-ministro vai nesta quarta-feira falar sobre turismo, na Quinta do Lago. Os empresários dizem que há um “sentimento de injustiça” pela falta de investimentos públicos. A saúde é um dos exemplos.

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Hospital de Faro afinal assegura serviço de neurocirurgia Foto: Virgílio Rodrigues

O Hospital de Faro vai investir cinco milhões de euros em obras de remodelação. Com as melhorias previstas para este ano, aparentemente, fica mais uma vez adiada a construção do novo Hospital Central, que teve já data de inauguração marcada para 2013. O presidente do Centro Hospitalar do Algarve (CHA), Pedro Nunes, reconhece que é importante uma unidade de saúde de “natureza central”, mas acha que não há, de momento, condições financeiras para que tal aconteça. O ministro da Saúde, Paulo Macedo, já tinha afirmado, há alguns meses: “Concordo, quando houver dinheiro”.

O primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, vai estar nesta quarta-feira na Quinta do Lago, na abertura da conferência: “Turismo no Algarve, passado, presente e futuro”, destinada a assinalar os 45 anos do turismo algarvio. Não havendo garantia de cuidados de saúde de qualidade, avisa o presidente da Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA), “cria-se um sentimento de insegurança no mercado turístico”. De resto, acrescenta, a falta de investimentos no sector da saúde, “pode vir a colocar em causa alguns dos grandes projectos de desenvolvimento da região, numa altura em que se aposta no turismo residencial”. Há cerca de cinco anos, o antigo primeiro-ministro, José Sócrates, utilizou semelhantes argumentos, no lançamento do concurso público de uma obra que nunca chegou a sair da gaveta.

O líder do PS/Algarve, António Eusébio diz que “naturalmente” a construção do Hospital Central é uma velha aspiração da região. No entanto, acha que não será para os tempos mais próximos. “Atendendo ao estado das finanças do país, não me parece que seja prioridade nacional”. Para minimizar as lacunas existentes, defende um “reforço de financiamento e aumento das valências nos hospitais de Faro e Portimão”. Uma posição que está em sintonia com o que defende Pedro Nunes. “Se tivesse responsabilidades, não pensaria nessa hipótese, nos anos mais próximas”, defende o ex-bastonário da Ordem dos Médicos, considerando que, de adaptação em adaptação, o velho hospital vai resistindo. Porém, sublinha as carências da região, principalmente ao nível do internamento e de profissionais. “O privado não substitui o Serviço Nacional de Saúde (SNS). O Algarve precisa de um hospital de natureza central”.          

O presidente distrital da Ordem dos Médicos, Ulisses Brito, pelo contrário, entende que “faz todo o sentido” voltar a colocar este assunto na agenda, numa altura em que se fala no relançamento da economia e no turismo para fazer soltar a mola dos investimentos “Os cinco milhões de euros investidos no Hospital de Faro não resolvem os problemas estruturais, são apenas adaptações,- sem dúvidas importantes, mas não suficientes”. Embora o número de clinicas e hospitais privados continue a fazer parte do pacote do chamado “turismo de saúde”, a região algarvia continua a registar um dos mais baixos rácios da oferta de médicos por número de habitantes - 20,3 por 10 mil habitantes. Na cauda da estatística fica o Alentejo com 19,1 (fonte Ministério da Saúde). No que diz respeito às camas para internamento, informa a Administração Regional de Saúde do Algarve (ARS), o SNS dispõe de uma oferta 1032 camas, enquanto o privado se fica pelas 259. “O privado visa o lucro para os seus accionistas, o SNS tem de tratar todos por igual”, sublinha Pedro Nunes, lembrando que o planeamento não deve ter em consideração apenas os 450 mil residentes habituais, mas contar, também, com a população flutuante que representa quase o dobro.

Elidérico Viegas, por seu lado, destaca a crítica dos empresários em relação aos sucessivos governos, no que diz respeito aos investimentos públicos. “Há um sentimento de injustiça que assenta no facto da principal zona turístico do país não ter visto reflectida a sua importância”, enfatiza. A falta à promessa da construção de um novo hospital é um dos exemplos , acrescentando a necessidade de construção de um Espaço Mulitusos/ Centro de Congressos. No entanto, foi criado em 2004 um Parque das Cidades, situado entre Faro e Loulé, para responder a essas necessidades, mas ficou-se apenas pela construção de um estádio de futebol e mais tarde um laboratório de saúde pública, ao lado do terreno que continua reservado para a construção do hospital.

Em 2008, o antigo primeiro-ministro, José Sócrates, chegou a anunciar concurso para a obra, num âmbito de uma parceria público/privada, com a promessa de que em 2013 o hospital estaria em pleno funcionamento. Ao mesmo tempo anunciava os projectos de Potencial Interesse Nacional (IN). A câmara de Faro, na altura presidida pelo socialista, José Apolinário, não chegou a fazer oposição pública ao anúncio do governo, mas deixou cair alguns receios sobre o impacto que representaria a deslocalização da unidade de saúde para fora da cidade. “Chegou a existir um conflito interno no PS”, desabafou, agora, na última reunião pública da câmara, o vereador socialista, Luís Graça, destacando a importância de “manter vivo” o centro da cidade. O novo Hospital Central, orçado em cerca de 300 milhões de euros, teria uma capacidade para 549 camas, com uma componente dedicada ao ensino universitário e investigação, ficando o actual hospital de Faro destinado a acolher uma Unidade de Saúde Familiar, uma Unidade de Cuidados Continuados e uma Residência Assistida para Idosos.

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