Castanhas na praia

Um dos sonhos da Maria João era comer castanhas assadas na praia.

O meu terror, quando me apaixonei pela Maria João, foi que ela fosse uma mulher prática. Perguntei-lhe muito nos primeiros anos de amor: "Não és uma mulher prática, pois não?" Ela nunca percebeu a pergunta, porque é uma romântica, tal como eu.

A pequena diferença entre nós é que ela pratica a concepção romântica da vida enquanto eu (ainda) não passei da fase conceptual, que consiste em estar apaixonado pela ideia do romantismo, pensando erradamente (e sem proveito próprio) que ela corre perigo.

Um dos sonhos da Maria João era comer castanhas assadas na praia. As primeiras boas castanhas portuguesas – as Martainhas – costumam ser apanhadas no fim de Outubro, princípio de Novembro, a tempo para o São Martinho.

São dias que não costumam ser de praia. O chamado Verão de São Martinho existe, mas não tende a puxar-nos para a praia – e muito menos para tomar quatro ou cinco banhos de mar, como nós gozámos anteontem.

Mesmo à frente da estação de comboios de Cascais está uma excelentíssima equipa de compradores e assadores de castanhas (uma mulher e dois homens) que, por dois euros por dúzia (mais um pacotinho de sal grosso de graça), vendem as melhores e mais bem assadas e servidas castanhas martainhas desde o ano em que comecei a comer castanhas, que foi 1960 ou 1961.

Comprámos três dúzias e fomos para a praia da Duquesa, onde já estava outro casal a acastanhar-se. Sem outro esforço que não a esperança, tornou-se mais um sonho em verdade.

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