O futebol francês vai a reboque do PSG e em termos competitivos isso é mau

Os fortes ficam mais fortes no panorama interno, mas em termos europeus os clubes franceses perdem competitividade. “Efeito PSG” esconde as dificuldades económicas que a maioria dos emblemas enfrenta

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AFP/FRANCK FIFE

Que o futebol é um sector perfeitamente equipado para resistir à crise, não é segredo para ninguém. O que o futebol francês mostra ao mundo é que há duas formas de olhar para essa capacidade de resistência: os clubes fortes ficam ainda mais fortes, vêem as receitas aumentar e reforçam a hegemonia interna. Ao mesmo tempo, os emblemas menos poderosos não conseguem competir – ou, se tentam fazê-lo, aumentam as despesas sem que as receitas acompanhem esse crescimento – e vêem comprometida a própria situação financeira. E, a médio/longo prazo, todos perdem, como pode ver-se no ranking da UEFA.

Não é de agora que em França estão preocupados com a posição no ranking da UEFA, mesmo que esta temporada tenham Paris Saint-Germain e Mónaco nos quartos-de-final da Liga dos Campeões. Em 2005 a França estava no quarto lugar da tabela, colocando sete equipas nas competições europeias. Actualmente é sexta, com seis equipas (os dois primeiros classificados entram directamente na fase de grupos da Champions, o terceiro disputa a terceira pré-eliminatória e o quarto vai à Liga Europa, restando duas vagas atribuídas através da Taça de França e da Taça da Liga francesa). Na próxima temporada, o futebol francês estará a pouca distância de Portugal, quinto classificado, mas também terá escassa vantagem sobre a Rússia, sétima do ranking. O caso português é citado num estudo feito pela consultora Ernst & Young, com dados relativos a 2012-13 e apresentado nesta segunda-feira pela União dos Clubes Profissionais de Futebol (UCPF) franceses: o recurso à posse partilhada dos direitos desportivos dos jogadores (proibida pela FIFA a partir de Maio) permite aos clubes portugueses serem competitivos sem precisarem de fazer investimentos consideráveis. “O projecto europeu de certos clubes – com o PSG à cabeça – será suficiente para fazer crescer o conjunto dos clubes e a economia do futebol profissional, sem uma melhoria do panorama competitivo?”, questionam os responsáveis do estudo.

A saúde financeira do futebol profissional não está em causa, nem nunca esteve. Entre 2011 e 2013, o PIB francês aumentou uns anémicos 0,6%, enquanto o volume de negócios do futebol profissional em França cresceu 19%. Porém, este crescimento assenta num modelo económico desequilibrado, alerta o Baromètre Foot Pro. “Este crescimento, inegavelmente impelido por um ‘efeito PSG’, mascara uma realidade economicamente difícil para o conjunto dos clubes, que lutam para competir com os seus concorrentes europeus”, apontam os analistas. A preponderância do Paris Saint-Germain no futebol francês não parou de aumentar desde que o clube passou para as mãos de investidores do Qatar: “Com um volume de negócios próximo dos 400 milhões de euros, o que é o dobro do que se verificava na época 2011-12 e o quádruplo de 2010-11, o PSG representa perto de 27% do volume de negócios total gerado pelos clubes profissionais na época 2012-13.”

A realidade teria outras cores se não fosse o investimento que os parisienses têm vindo a fazer. “O crescimento do volume de negócios dos clubes profissionais na temporada 2012-13 é, na realidade, largamente suportado pelo crescimento económico do PSG, que se tornou no quinto clube europeu em termos de volume de negócios”, pode ler-se. “Se excluirmos o Paris Saint-Germain, o valor do volume de negócios dos clubes do primeiro e segundo escalões do futebol francês recuou 3,7%”, acrescentam os autores.

O modelo económico no qual assenta o futebol francês é “desequilibrado”, aponta o estudo apresentado pela UCPF. Em 2012-13 as despesas dos clubes franceses ascenderam a 1796 milhões de euros (com 59% dos encargos relacionados com salários de funcionários e futebolistas), para receitas de 1501 milhões de euros. A principal fonte de rendimentos esteve nos direitos televisivos (49%), e os proveitos realizados com a venda de jogadores permitiram minimizar o desequilíbrio: “As transferências servem de variável de ajustamento para reequilibrar parcialmente as contas. O saldo positivo de 220 milhões nas transferências no período em análise permitiu limitar o défice global a 75 milhões de euros.”

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