O Brasil prussiano encontra o samba alemão

“Superação” é a palavra de ordem entre a selecção brasileira para contrariar uma Alemanha na máxima força.

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Brasil prepara meias-finais sem Neymar nem Thiago Silva Vanderlei Almeida / AFP

Pode uma ausência dominar perante as presenças? O jogo entre o Brasil e a Alemanha das meias-finais do Mundial desta terça-feira vai ser incontornavelmente marcado pela lesão de Neymar, lamentada até pelos adversários, que retirou o craque brasileiro da competição.

No último treino na Granja Comary, antes de partir para Belo Horizonte, Luiz Felipe Scolari aplicou-se para resolver a equação táctica com que se depara. E a solução está longe de ser óbvia. De acordo com a imprensa brasileira, foram testadas nada menos do que cinco formações alternativas durante a sessão. Willian ou Bernard são apontados como as alternativas naturais ao avançado do Barcelona, mas Scolari pode ter outras ideias. Uma delas poderá passar por um maior preenchimento do meio-campo, com a entrada de Luiz Gustavo – que não jogou frente à Colômbia por suspensão – e alinhando apenas com Hulk e Fred na frente.

Tivesse apenas de lidar com a ausência de Neymar e a tarefa de Scolari já seria complicada. Mas sem o capitão Thiago Silva, o “escrete” fica com um problema monumental. A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) bem tentou faze um pressing final junto do Comité Disciplinar da FIFA para que o cartão amarelo mostrado a Thiago Silva fosse retirado, mas de nada serviu. O escolhido para o lugar do central do Paris Saint-Germain deverá ser Dante, que até tem a vantagem de conhecer bem o futebol alemão, fruto das seis épocas de experiência na Bundesliga.

Entre a selecção brasileira tem-se formado um ambiente de solidariedade, em virtude das ausências para o jogo frente à Alemanha, que contrasta com a desconfiança que reinou nos primeiros desafios. O colunista da Folha de São Paulo, Juca Kfouri, - uma das vozes habitualmente mais críticas da “canarinha” – escreveu que o peso do favoritismo “está hoje posto muito mais sobre os ombros dos alemães do que dos brasileiros” e apelou à “superação” dos jogadores.

Se o Brasil se debate com ausências importantes, o cenário da “Mannschaft” não poderia ser mais diferente. Depois de algumas notícias que davam conta de vários jogadores apresentarem sintomas de gripe, tudo parece tranquilo no quartel-general alemão, montado em Santo André. Apenas o defesa Shkodran Mustafi está impedido por lesão e não pode ser opção para Joachim Löw.

As dores de cabeça do seleccionador germânico são de índole bem diferente das do seu homólogo brasileiro. Philipp Lahm deverá manter-se na lateral direita, com o miolo a ser ocupado por Schweinsteiger e Sami Khedira. Na frente, a miríade de opções possibilita vários cenários.

Apesar das críticas recentes apontadas a Mesut Özil, que não tem aparecido com o brilho que lhe é característico, o médio do Arsenal deverá continuar a merecer a confiança de Löw, que não abdica de um jogador “que pode decidir um jogo e influenciar com apenas uma acção”, como explicou. Thomas Müller também será outro dos elementos com lugar garantido, mas poderá migrar para o centro do ataque, consoante a decisão do seleccionador em relação à permanência de Klose.

Titular frente à França, o ponta-de-lança que neste Mundial igualou o recorde de golos marcados em fases finais detido por Ronaldo poderá ser preterido em função da inclusão de um homem mais móvel como Götze ou Schürrle. E há ainda Lukas Podolski, que só foi titular frente aos EUA. Jogue quem jogar, a qualidade está assegurada.

Frente a frente vão estar duas das selecções mais bem-sucedidas em Mundiais, somando entre si o número assombroso de 206 partidas em fases finais, oito títulos e presenças em 13 das últimas 16 finais. Dado o largo historial, parece incrível que brasileiros e alemães só se tenham defrontado apenas numa ocasião. Foi a 30 de Junho, em Tóquio, na final do Campeonato do Mundo 2002, ganha pelo Brasil (2-0), com dois golos de Ronaldo.

Muito mudou desde então. Posto de forma simples, o Brasil “germanificou” e a Alemanha “abrasileirou” o seu estilo de jogo. Basta pensar no receio mostrado pelo treinador-adjunto da Alemanha, Hansi Flick, em relação às “jogadas mais físicas” protagonizadas pelos brasileiros e que Schweinsteiger resumiu: “A selecção brasileira aprendeu a lutar.”

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