Rinoceronte-de-samatra está a 100 animais da extinção na natureza

Já não há rinocerontes-de-samatra selvagens na Malásia. A salvação deste mamífero, que ainda subsiste na Indonésia e em jardins zoológicos, depende de medidas de conservação.

Um rinoceronte-de-Samatra
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Um rinoceronte-de-samatra Rasmus Gren Havmøller
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Harapan, um rinoceronte-de-samatra macho que está no Jardim Zoológico de Cincinnati, nos Estados Unidos, é o único da sua espécie que vive no Ocidente Cincinnati Zoo and Botanical Garden/Reuters
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Com oito anos, Harapan vai ser enviado para a Indonésia, no final do ano, num programa de reprodução Cincinnati Zoo and Botanical Garden/Reuters

O mapa da distribuição histórica do rinoceronte-de-samatra (Dicerorhinus sumatrensis) no Sudeste da Ásia transporta-nos para outro mundo. O habitat deste herbívoro começava no Butão, atravessava a ponta Nordeste da Índia e vinha por aí abaixo: Birmânia, Tailândia, algumas bolsas no Laos, no Camboja e no Vietname, Malásia continental e nas ilhas de Samatra (da Indonésia) e do Bornéu (dividido entre a Malásia, a Indonésia e Brunei).

Hoje, resta cerca de uma centena destes animais em Samatra, ainda por cima divididos em três populações; há pouquíssimos no Bornéu, na parte da Indonésia; e nove em jardins zoológicos no mundo. Na natureza, as populações de rinoceronte-de-samatra na Malásia são agora consideradas extintas, avança o estudo de uma equipa internacional de cientistas, liderado por Rasmus Gren Havmøller, do Museu de História Natural da Dinamarca, em Copenhaga, publicado na revista Oryx

Para salvar a espécie da extinção, a equipa defende uma série de medidas, a mais importante passa por considerar as pequenas populações como uma única população e, nesse sentido, tentar fazer cruzamentos entre animais desta única população.

“O principal problema actual é que os rinocerontes-de-samatra estão demasiado longe entre si e raramente se encontram para se reproduzirem”, explica ao PÚBLICO Rasmus Gren Havmøller, estudante de doutoramento, que está também a investigar a ecologia e a abundância de leopardos em montanhas na Tanzânia. Desde 2010 que este ecologista trabalha com os rinocerontes-de-samatra. “O que é agora essencial é que o Governo da Indonésia adopte a estratégia de aproximar os rinocerontes que restam, para maximizar as oportunidades de reprodução na natureza.”

Há várias espécies e subespécies de rinocerontes que já se extinguiram no Sudeste asiático e em África. A caça furtiva, por causa dos cornos usados na medicina tradicional asiática, e a destruição de habitat estão na origem do desaparecimento destes animais emblemáticos. Neste momento, a espécie do Sudeste asiático é tão rara que mais de metade das fêmeas capturadas têm doenças no seu sistema reprodutivo, porque, ao longo da vida, não tiveram oportunidade de ficarem grávidas. Estas doenças tornam-nas inférteis, dificultando ainda mais a salvação da espécie.

No artigo, a equipa de cientistas recolheu a informação mais completa e recente sobre o estado das diferentes populações de rinoceronte-de-samatra. Foi assim que concluíram que este animal desapareceu das florestas da Malásia, tal como já tinha acontecido nos outros países.

Ainda não foi avaliado o impacto desta perda nos ecossistemas das florestas. “Não há dúvida de que o rinoceronte-de-samatra espalha um grande número de sementes de frutas e plantas que come, mas o efeito do seu desaparecimento ainda não foi estudado”, diz Rasmus Gren Havmøller. “Penso que se o protegermos e se protegermos o habitat onde vive, vamos salvar muitas outras espécies, como elefantes, orangotangos, tigres, tapires, calaus, entre outros.”

Para isso, segundo o artigo, será necessário estudar em pormenor a centena de rinocerontes que ainda restam na natureza, colocá-los em zonas naturais protegidas, fazer uma gestão unificada dessas zonas, transportando os animais de um lado para outro para optimizar a sua reprodução, e continuar a apostar na reprodução in vitro para os animais que estão em cativeiro.

Rasmus Gren Havmøller acredita que é possível salvar esta espécie, tal como já aconteceu com o rinoceronte-indiano, que chegou a ter menos de 200 animais e hoje existem mais de 3300. Mas não será uma tarefa fácil: “Há a possibilidade de salvar os rinocerontes, mas não levará apenas cinco a dez anos, vai demorar muito mais do que isso.”

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