Dromedários suspeitos de transmitirem nova pneumonia atípica

Animais têm anticorpos de vírus que poderá ser o novo coronavírus que causa a Síndrome Respiratória do Médio Oriente.

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O próximo objectivo é descobrir o coronavírus nos dromedários Roberto Schmidt/AFP (arquivo)

Um estudo publicado nesta semana mostra que as populações de dromedários em Omã apresentam anticorpos para o novo coronavírus mortal que causa pneumonia atípica, cujo primeiro caso humano apareceu em Setembro de 2012. O estudo publicado na revista Lancet Infectious Diseases é uma pista importante para se descobrir quais os animais que estão a passar o vírus para as populações humanas, mas é necessário encontrar provas mais substanciais para comprovar que os dromedários são essa fonte.

A última actualização da Organização Mundial de Saúde (OMS) sobre a Síndrome Respiratória do Médio Oriente (MERS, sigla em inglês), causada por um novo coronavírus, data de 1 de Agosto e dava conta de três novas infecções em mulheres na Arábia Saudita. Duas pacientes apresentavam sintomas pouco severos, são profissionais da saúde e estiveram em contacto com outros doentes com a MERS, por isso a transmissão foi humana. A terceira não se sabe como apanhou a doença.

Desde Setembro de 2012 já foram infectadas 94 pessoas com este coronavírus, 46 morreram. A maioria foi na Arábia Saudita, mas há casos a chegarem à França, Alemanha, Itália, Tunísia ou ao Reino Unido. Infelizmente, apesar da maioria das pessoas infectadas ter apanhado a doença a partir de outra pessoa, desconhece-se qual é a fonte na natureza que está a transmitir o vírus ao resto do grupo dos infectados.

Um estudo recente mostrou que este coronavírus é semelhante a outro detectado em morcegos na África do Sul. Apesar dos morcegos poderem ser uma potencial fonte primária do vírus, há pouco contacto entre pessoas e morcegos. Por isso, os investigadores pensam que terá de haver um intermediário que está a passar o vírus para os humanos. Só com a descoberta deste animal intermediário é que será possível implementar medidas que evitem a transmissão deste vírus mortal que, por enquanto, ainda não ganhou capacidades de passar entre humanos com eficácia, podendo transformar-se assim numa pandemia.

A equipa de Marion Koopmans, do Centro de Investigação de Doenças Infecciosas do Instituto Nacional de Saúde Pública e Ambiental, em Bilthoven, na Holanda, foi à procura do intermediário. Os investigadores recolheram soro de vários animais que têm muito contacto com humanos como bovinos, ovelhas, cabras, dromedários e outras espécies de camelídeos de vários países como Omã, no Sudeste da Península Arábica, ilhas Canárias (Espanha), Holanda, Chile.

A equipa procurou no soro anticorpos deste novo coronavírus – pequenas moléculas produzidas pelo sistema imunitário destes animais que se ligam a uma molécula específica que existe na capa externa deste vírus. Estes anticorpos só são produzidos quando o sistema imunitário entre em contacto com o vírus, por isso são a prova que os animais foram, no passado, infectados.

Só nos dromedários é que os investigadores encontraram este anticorpo. “Achámos anticorpos nos dromedários que pensamos serem específicos do coronavírus MERS ou de um vírus que parece ser muito semelhante à MERS”, disse Marion Koopmans, citada pela BBC News.

Faltam provas
Em 15 dos 105 dromedários das ilhas Canárias, havia uma baixa concentração destes anticorpos, o que indica que uma pequena percentagem da população teve contacto há muitos anos com o coronavírus da MERS. Mas em Omã, os 50 dromedários analisados apresentavam, todos, grandes quantidades do anticorpo. Neste país, não foram registados casos humanos da nova pneumonia atípica. Segundo um artigo noticioso no site da Science, a equipa tentou sem sucesso obter soro de animais de países afectados pela doença como a Arábia Saudita e o Qatar, mas nenhum cooperou.

“Este é um artigo muito importante”, diz Matthew Frieman, da Escola de Medicina da Universidade de Mariland, em Baltimore, Estados Unidos. “O facto dos dromedários de Omã darem 100% positivo mostra que este resultado é significativo e muito provavelmente real”, refere, citado pela Science. Mas outros investigadores defendem que só se poderá ter a certeza de que este animal é o transmissor da doença depois de se encontrar o coronavírus.

A OMS é ainda mais precavida nos comentários à descoberta, alegando que muitas das pessoas que apanharam o vírus de uma fonte desconhecida não tiveram qualquer contacto com dromedários. “O que este estudo mostrou foram os anticorpos nos camelos, isto quer dizer que, a dada altura no passado, estes camelos estiveram infectados com o vírus e produziram anticorpos”, explicou citado pela Reuters Tarik Jasarevic, porta-voz da OMS, numa conferência de imprensa dada na sexta-feira.

“Agora, para sabermos se é o mesmo coronavírus que causa a nova MERS nos humanos, temos que descobrir o próprio vírus e não os anticorpos. Por isso este seria o próximo passo, encontrar o vírus e identificá-lo como sendo o mesmo [do da nova epidemia]”, disse, acrescentando que outras espécies animais também podem estar infectadas. “Por isso, isto dá-nos algumas pistas para prosseguir, mas ainda não sabemos qual é a fonte do vírus e, principalmente, ainda não conhecemos como os humanos ficam expostos para contraírem a infecção.”
 

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