Dejectos de ave gigante extinta mostram como era a Nova Zelândia antes da chegada do Homem

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Os paleontólogos conseguiram espreitar a Nova Zelândia antes da chegada do Homem New Zealand Herald/Reuters

Uma equipa de paleontólogos australianos descobriu o que estava escondido há quatro mil anos nas zonas mais remotas da Nova Zelândia. Enterrados em grutas nas rochas, os cientistas encontraram dejectos de Moa gigante (Dinornis novaezealandiae), espécie de ave extinta, que os podem ajudar a“espreitar” e saber como era aquele país antes da chegada do Homem.

Jamie Wood, da Universidade de Otago, descobriu no Sul da Nova Zelândia 1500 dejectos desta ave, que em tempos era a maior ave do planeta com os seus três metros de altura e 250 quilos. E que não voava.

Alguns dos dejectos encontrados tinham até 15 centímetros de comprimento e foram datados de um período entre os quatro mil anos e poucas centenas de anos atrás, explicou Alan Cooper, director do Centro australiano para o ADN antigo, na Universidade de Adelaide.

Utilizando tecnologia para analisar o ADN, os investigadores estudaram os excrementos secos, bem como pequenos pedaços de folhas e sementes encontrados nos dejectos e compararam-nos com as espécies de plantas conhecidas. Começava assim a ser construída a primeira imagem detalhada de um ecossistema dominado por espécies gigantes extintas. “A Nova Zelândia oferece uma oportunidade única para reconstruir o funcionamento de um ‘ecossistema megafaunal’”, comentou Cooper. “Não podemos fazer isto em mais lugar nenhum do mundo porque as espécies gigantes se extinguiram há demasiado tempo, por isso não temos um registo tão diverso de espécies e habitats”, acrescentou.

Os cientistas reconhecem ter ficado surpreendidos com os resultados das análises ao ADN. “Surpreendentemente, em relação ao que acontece com aves assim tão grandes, metade das plantas que encontrámos nos dejectos tinham menos de 30 centímetros de altura”, disse Wood, num comunicado publicado no site da Internet do Centro australiano para o ADN antigo. “Isto sugere que algumas moas se alimentavam de plantas do género de pastagem o que representa uma grande mudança em relação àquilo que pensávamos, ou seja, que essas aves se alimentavam de árvores e arbustos”, acrescentou.

Além disso, os paleontólogos encontraram “muitas espécies de plantas que estão actualmente ameaçadas ou são raras, sugerindo que a extinção da moa teve um impacto na sua capacidade de reprodução ou dispersão”.

Mas o estudo está longe de pertencer apenas ao passado. Os paleontólogos acreditam que as interacções entre animais e plantas que viram nos dejectos “deram uma informação crucial sobre as origens e o contexto do nosso ambiente actual e para prever como poderemos responder a extinções e a alterações climáticas futuras”, comentou Cooper.

Depois da Nova Zelândia, os paleontólogos questionam-se se poderão fazer o mesmo com os marsupiais gigantes já extintos na Austrália, dadas as condições áridas que promovem a sua conservação. “A grande questão que se coloca agora é: ‘para onde foram todos os dejectos australianos?”, brincou Cooper.

A moa, grupo de que faziam parte dez espécies entre elas a moa gigante, foi o herbívoro dominante na floresta da Nova Zelândia durante séculos até à chegada do povo Maori que caçaram estes animais. Acredita-se que todas as espécies se extinguiram até 1500, ou seja, no espaço de apenas cem anos. Hoje podemos apenas ver os seus esqueletos, espalhados por museus de História natural de todo o mundo.

As conclusões do trabalho – de cientistas da Universidade de Adelaide, da Universidade de Otago e do Departamento de Conservação da Nova Zelândia - foram publicadas na “Quaternary Science Reviews”, uma revista de geologia internacional.

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