Obra realça avanços da cartografia náutica portuguesa face às congéneres europeias
Livro A Cartografia de Magalhães tem agora uma nova edição, que se encontra à venda nas livrarias.
A obra A Cartografia de Magalhães, de Joaquim Alves Gaspar e Sima Krtalic, realça os avanços da cartografia náutica portuguesa relativamente a outras congéneres europeias e acentua um “antes e depois” da viagem iniciada por Fernão de Magalhães, em 1519.
A obra, amplamente ilustrada, com reproduções a cor de várias cartas, de cartógrafos como Alonso de Santa Cruz (1505-1567), “o mais influente cosmógrafo espanhol” que participou na exploração do rio da Prata, na América do Sul, entre 1526 e 1531, e de outros cartógrafos como o português Pedro Fernandes, de quem se reproduz o planisfério de 1545, conservado na Biblioteca Nacional da Áustria, em Viena.
A obra inclui também a reprodução de cartas de autores anónimos, como uma de 1540 sobre a região da península da Malásia ao mar de Banda, conservada na Biblioteca Herzog August, em Wolfenbüttel, na Alemanha, atribuída a produção portuguesa.
“Vale a pena realçar a autoridade de que a cartografia se revestia na época de [Fernão] de Magalhães”, salientam os autores, segundo os quais, “encetada a expansão marítima dos povos ibéricos, durante o século XV, a nova imagem do mundo dela resultante veio progressivamente substituir os eruditos modelos geográficos baseados nas concepções ptolemaicas, os quais se tinham revelado parcialmente incorrectos e muito incompletos”, escrevem os investigadores da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
As navegações ibéricas, pela experiência, vieram pôr de lado as representações ancestrais do mundo, como a ptolemaica, principalmente depois das viagens de Cristóvão Colombo, a partir de 1492, de Bartolomeu Dias (1487/1488) e de Vasco da Gama (1497/1499).
Todavia, indícios do modelo do geógrafo Ptolomeu persistiram ainda quando Fernão de Magalhães apresentou o seu projecto ao rei espanhol Carlos I.
Fernão de Magalhães, de origem portuguesa, propunha descobrir uma passagem entre os oceanos Atlântico e Pacífico, o que também seria tentado pelo português João Dias de Solis, em 1516, e por vários espanhóis, sem êxito.
“A proposta de Fernão de Magalhães, bem fundamentada no seu conhecimento pessoal do Sueste asiático e na cartografia náutica portuguesa, sem dúvida a melhor cartografia oceânica da época, foi providencial para o jovem rei Carlos I [de Espanha]”, lê-se na obra, que teve agora uma segunda edição lançada esta quarta-feira na Biblioteca Nacional de Portugal, em Lisboa. A Cartografia de Magalhães (editora Althum.com), que custa 50 euros, encontra-se à venda nas livrarias.
Além dos argumentos técnicos e científicos, “juntou-se o facto de se fazer acompanhar por reconhecidos especialistas em navegação, cartografia e astronomia”.
Fernão de Magalhães propunha-se não só encontrar a passagem entre os oceanos Atlântico e o Pacífico, bem como alcançar as ilhas Molucas de “enorme importância”, por “aqui serem cultivadas especiarias muito valorizadas na Europa, em especial o cravo-da-índia, cuja flor era muito utilizada em culinária e medicina desde a antiguidade”, e “comprovar que as cobiçadas ilhas se encontravam no hemisfério espanhol”, no âmbito da partilha do mundo em dois por Portugal e Espanha, estabelecida pelo Tratado de Tordesilhas assinado por João II, de Portugal e Fernando II, de Espanha, em 1494.
Confirmando-se que as Molucas pertenciam ao lado espanhol, Fernão de Magalhães garantia uma importante fonte de receita para a coroa espanhola. Todavia teve um percalço: as observações do piloto e cosmógrafo sevilhano Andrés de San Martín. As observações astronómicas que realizou na ilha de Homonhon, nas Filipinas, colocavam as Molucas no lado português, como sempre Lisboa defendeu.
Fernão de Magalhães visava ainda um quarto objectivo, “regressar em segurança a Sevilha, atravessando o grande oceano [Atlântico] de oriente para ocidente”, mas não o concluiu devido à sua morte precoce, aos 41 anos, em Mactan, nas Filipinas, num conflito bélico com os locais. A sua viagem foi concluída pelo navegador espanhol Juan Sebastián Elcano.
A obra de Joaquim Alves Gaspar e Sima Krtalic retrata o estado da cartografia antes e depois da viagem de circum-navegação arquitectada pelo transmontano Fernão de Magalhães (1480-1521), traçando a actividade e biografias de cerca de 30 cartógrafos, entre os quais Fra Mauro, Jorge de Aguiar, Pedro Reinel, Lopo Homem e Gerard Mercator.