"O Stephan traz-me os resultados da sua viagem — porque eu não posso fazer as viagens que ele faz, não tenho essa energia. Ele escala montanhas, vai para grutas perigosas — enfim, foi para dentro de um reactor nuclear". É Patti Smith que o diz ao Ípsilon. Stephan é Stephan Crasneanscki, senhor do Soundwalk Collective, senhor que viaja pelo mundo para gravar o som dos sítios, "observando o mundo através da escuta", como resume Gonçalo Frota no trabalho de capa desta edição.

Com o Soundwalk Collective, Patti Smith apresentará no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, a exposição/instalação Evidence, entre 23 de Março e 15 de Setembro, uma viagem física e sonora pela poesia de Artaud, Daumal e Rimbaud. "Gosto de me sentir no mesmo sítio onde estão poetas e artistas que admiro – é como ir visitar a campa da minha mãe", afirma ela.

Na data da inauguração, Patti Smith actua ainda no festival Belém Soundcheck, no CCB, com a performance Correspondence, que passa pelo Theatro Circo, em Braga, no dia seguinte. A 7 de Julho apresenta-se no Festival Jardins do Marquês, em Oeiras, enquanto rocker. É a sua faceta mais popular, mas ela vê-se, sobretudo, como uma escritora. "Não sou uma música", garante.

Num dia farto para a música portuguesa, temos entrevistas com os Capitão Fausto e com Branko.

Subida Infinita é o álbum em que os Capitão Fausto depuram como nunca antes a arte da canção. É, também, um álbum atravessado pela dor e pela mudança, sobre "a procura do "optimismo perdido".

Branko tem em Soma um disco em que afirma a sua visão da música de Lisboa, tão portuguesa como africana ou global. Ao quarto álbum, João Barbosa junta-se a músicos da cidade e a vozes da diáspora lusófona para fazer a sua peculiar música de dança. No Spotify do Ípsilon pode encontrar dez temas produzidos pelo ex-Buraka Som Sistema nos últimos anos, escolhidos e comentados pelo próprio (spoiler: a lista vai de Dino D’Santiago a M.I.A.).

Kristen Stewart, actriz de Twilight e Spencer, é a vedeta nominal de um filme negro queer e trash saído da cabeça de uma inglesa tímida, Rose Glass. Em Berlim, as duas explicaram a Jorge Mourinha como nasceu Amor em Sangue, agora nas salas.

"Dizemos que a arte cura, mas a arte não cura; às vezes, torna-nos mais doentes", confessa Fernanda Melchor a Isabel Lucas numa conversa sobre Paradaise, o novo livro de uma carreira a atravessar aclamação crítica – o anterior Temporada de Furacões venceu há dias o Prémio Literário Casino da Póvoa. "Normalmente, os livros que ganham prémios são os livros que nos fazem sentir bem, não os livros que nos fazem sentir mal, como o meu."

Também neste Ípsilon:

- Dança: This is not a dance e o Irão que não consegue parar de dançar; e The Dan Daw Show, peça que tem uma "pessoa sexy com deficiência";

- A pop de Ariana Grande em ponto de caramelo; e várias estreias de cinema, como Paloma, Levante e Vermin – A Praga;

- A arte de Cruz-Filipe, nome incontornável do século XX português, na Gulbenkian, em Lisboa;

- A exposição de José Pedro Croft na Galeria Nuno Centeno, no Porto.

E há mais. Boas leituras!


Ípsilon no Spotify: as nossas escolhas; Leituras: o nosso site de livros; Cinecartaz: tudo sobre cinema