Nira escapou ao massacre do Hamas e quer que Governo português ajude a salvar o marido

Família acredita que Portugal pode pressionar o Qatar, país que tem servido como mediador nas negociações para a libertação dos reféns levados para a Faixa de Gaza.

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Yosef e as filhas, Ofir, Oren, Yuval, com a sua mulher, Nira DR
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O relato parece saído de um filme e é contado ao PÚBLICO na primeira pessoa por Nira Sharabi, cidadã israelo-portuguesa. Escapou miraculosamente à morte com as três filhas adolescentes no dia em que elementos armados do grupo terrorista Hamas massacraram muitos dos mil habitantes do kibbutz Be’eri. O marido, Yosef Sharabi, também português, foi levado e Nira pede ajuda ao Governo de António Costa para pressionar para a sua libertação, caso ainda esteja vivo e seja um dos reféns na Faixa de Gaza.

Instantes antes desta conversa, um soldado israelita visitara a família, que se encontra em Kfar Hareef, no Sul de Israel, para trazer uma notícia menos terrível, se assim se pode dizer. A cunhada e as duas sobrinhas menores, que foram assassinadas naquela manhã numa casa vizinha, acabaram por ter uma morte rápida, depois de se ter especulado sobre eventuais torturas. As tropas israelitas encontraram as três abraçadas, com a mãe por cima das filhas, e concluiu terem morrido após serem alvejadas.

Nira está viva para contar a história. Os homens do Hamas chegaram de manhã, tiraram a família de casa. O marido Yosef, de 53 anos, foi colocado num carro, com dois jovens de 17 e 15 anos, e levado em direcção à Faixa de Gaza. A mulher e as filhas demoraram algum tempo a digerir que não iria voltar. Sentadas na relva, com dois idosos, esperaram pelo seu destino, guardadas por um membro do Hamas.

Um tiroteio ali perto captou a atenção do homem, que as deixou sozinhas por algum tempo. Com frieza e rapidez, Nira pediu a todos para se levantarem e procurou um sítio para se esconderem. Viu uma casa já semidestruída e entrou com o grupo, apostando que os terroristas não voltariam ali. Durante oito horas, estiveram encerrados num quarto às escuras e em completo silêncio.

Acabaram por ser resgatadas pelo exército israelita, que retiraram todos os sobreviventes do kibbutz. “Estamos em choque, mas não queremos perder o ânimo”, disse ao PÚBLICO, referindo-se à possibilidade de o Hamas libertar os reféns com dupla nacionalidade – até agora foram soltas quatro reféns, as primeiras, mãe e filha, eram israelo-americanas.

“Encontrámo-nos ontem [quinta-feira] com o embaixador de Portugal e sentimos calor, a preocupação e a vontade de ajudar em tudo aquilo que puder”, contou. “Queremos ter a ajuda de Portugal, mesmo que seja apenas para perguntar como estão as famílias”, reiterou, sublinhando, por outro lado, que o Governo de Lisboa pode também exercer pressão ao nível diplomático.

“Israel, por exemplo, não tem ligações diplomáticas com o Qatar [país que tem servido como mediador nas negociações para a libertação dos reféns do Hamas], mas sabemos que Portugal tem lá um embaixador”, justificou: “Esta também pode ser uma forma de pressão para que libertem Yosi [diminutivo de Yosef]."

“O Yosi é português, conhece o país e o seu espírito. Esperemos que a mensagem que mandamos daqui se espalhe para que Portugal faça tudo o que puder para proteger os seus cidadãos e os trazer de volta para casa.”

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