Num mês, há mais de cinco mil ninhos de tartarugas em cinco quilómetros de praia em Cabo Verde

Uma organização ambientalista contou 5700 ninhos em cinco quilómetros da praia João Barrosa, na ilha cabo-verdiana da Boa Vista, até à última noite do mês de Julho. Cabo Verde tornou-se, em 2020, no segundo mais importante ponto de desova de tartarugas marinhas.

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Uma tartaruga Caretta caretta dirige-se para o mar

Em apenas cinco quilómetros de praia da ilha cabo-verdiana da Boa Vista foram detectados 5730 ninhos de tartarugas, em pouco mais de um mês da época de desova, anunciou a organização não-governamental cabo-verdiana Bios. “A nossa equipa monitorizou 1617 fêmeas adultas e foram protegidos 534 ninhos no viveiro”, explicou ainda a fonte da organização ambientalista, sendo essencialmente da espécie Caretta careta (a tartaruga-marinha-comum).

Contudo, entre os ninhos detectados naquela praia e que estão a ser monitorizados pelos voluntários da Bios.cv, inclui-se o “primeiro em Cabo Verde de Eretmochelys imbricata”, conhecida como “tartaruga de pente”, considerada internacionalmente como criticamente em perigo de extinção, e quatro ninhos de “tartaruga-oliva”.

O período de desova das tartarugas marinhas começa anualmente em Junho e vai pelo menos até Novembro, mas o pico acontece entre Julho e Setembro. A população de tartarugas marinhas Caretta careta de Cabo Verde é a terceira maior do mundo, apenas ultrapassada pelas populações na Florida (Estados Unidos da América) e em Omã (Golfo Pérsico).

Cabo Verde tornou-se, em 2020, no segundo mais importante ponto de desova de tartarugas marinhas, com o número de ninhos num recorde de quase 200 mil, segundo números divulgados em Março passado pelo ministro do Ambiente do país, Gilberto Silva. De acordo com o responsável, Cabo Verde viu o total de 10 725 ninhos de tartarugas detectados no arquipélago em 2015 aumentar para 198.787 ninhos em 2020, “quase 19 vezes mais”. “Com a educação ambiental, vigia de mais de 180 quilómetros de praias e aplicação da nova legislação que criminaliza a caça e o consumo das tartarugas, a taxa de captura diminuiu significativamente, de 8,25% em 2015 para 1,54% em 2020”, acrescentou.

De acordo com dados da Direcção Nacional do Ambiente, o melhor ano de nidificação das tartarugas marinhas em Cabo Verde tinha sido 2018, com um total de 109126 ninhos registados, muito mais do que os 44035 de 2017, os 30.70 do ano de 2016 e dos 10725 no ano anterior. As ilhas da Boa Vista, Sal e Maio representam mais de 95% das desovas no país.

Desde 2016 que as autoridades cabo-verdianas estão a financiar 11 associações comunitárias e organizações em todas as ilhas, e são monitorizados cerca de 167 quilómetros de praias em todo o território nacional.

Os dados acumulados desde 2015 apontam que a ilha da Boa Vista registou 248 mil ninhos, enquanto o Sal teve cerca de 64 mil e o Maio com quase 51 mil ninhos de desovas das tartarugas marinhas em cinco anos.

Cabo Verde introduziu legislação para proteger as tartarugas marinhas pela primeira vez em 1987, proibindo a sua captura em épocas de desova. Desde 2018 está em vigor uma nova lei, que tipifica outros tipos de crime, nomeadamente o abate intencional, bem como a aquisição, a comercialização, o transporte ou desembarque, a exportação e o consumo.

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