Pessoas com enfarte demoraram mais 21 minutos a chamar INEM

Receios provocados pela pandemia ajudam a explicar aumento do tempo entre os primeiros sintomas e o recurso ao 112 em situações graves.

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Manuel Roberto

O Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) foi chamado, no ano passado, para acorrer a situações de enfarte do miocárdio mais de duas horas depois do início dos sintomas. Isto significa um aumento do tempo médio para activação do 112 de 21 minutos face ao ano anterior. Os receios provocados pela pandemia de covid-19 ajudam a explicar este fenómeno, que também se verificou em casos de acidentes vasculares cerebrais (AVC).

Os dados são avançados esta sexta-feira pelo JN, citando fonte do INEM, revelando um aumento do tempo médio entre o início dos sintomas e a chamada para o 112 em situações graves. No caso dos enfartes, esse período aumentou em 21 minutos no ano passado. Ou seja, estes pacientes demoraram, em média, 2 horas e 13 minutos a activar a emergência médica.

Nos AVC o tempo entre o início dos sintomas e o recurso ao INEM chegou às 3 horas e 45 minutos, no ano passado. No ano anterior, este indicador tinha ficado nas 2 horas e 31 minutos. No entanto, uma mudança nos critérios de classificação faz com que os dados para situações de AVC não sejam completamente comparáveis.

Os responsáveis do INEM relacionam este aumento do tempo de espera para activação da emergência médica com a pandemia: os receios de infecção por covid-19 em caso de recurso às unidades de saúde, fizeram com que muitas pessoas tivessem protelado uma chamada para o 112, especialmente durante a primeira vaga, explica o JN.

O período entre o início dos sintomas e o recurso ao INEM é superior nas regiões do Interior do país. Nos casos de enfarte, o tempo de espera chega às 6 horas e 47 minutos em Bragança e ultrapassa as 4 horas em Vila Real. Para os AVC, os piores indicadores registam-se em Évora e Viana do Castelo (acima das 4 horas e meia em ambos os distritos).

De acordo com os mesmos dados, os pedidos de socorro para situações graves aumentaram no ano passado. Houve mais 12% de chamadas devido a paragem cárdio-respiratórias (que totalizaram 21.997 casos), num contexto geral de diminuição da actividade do INEM, que recebeu menos 13% de chamadas.

As chamadas “vias verdes”, que encaminham os doentes para hospitais de referência nas respectivas áreas, foram accionadas 4936 vezes para casos de AVC e 696 para problemas cardíacos.

As doenças do aparelho circulatório causaram 33.624 óbitos em 2019. E, neste universo, os AVC continuaram a estar na origem do maior número de óbitos nesse ano (10.975), representando 9,8% da mortalidade e uma taxa de 106,5 mortes de residentes por 100 mil habitantes. Este resultado reflecte, todavia, uma ligeira melhoria em relação a 2018, segundo dados que o Instituto Nacional de Estatística (INE) divulgou no início da semana.

As mortes por AVC continuaram a atingir principalmente as mulheres, com uma relação de 78 óbitos de homens por cada 100 óbitos de mulheres. Por outro lado, as mulheres continuaram também a morrer relativamente mais tarde que os homens devido a esta doença: a idade média ao óbito para as mulheres foi de 84,0 anos e para os homens de 79,9 anos.

Do total de óbitos por doenças cerebrovasculares, 93,6% foram de pessoas com 65 e mais anos e 82,5% de pessoas com 75 e mais anos, obtendo-se um número médio de anos potenciais de vida perdidos de 9,3, mais elevado que no ano anterior (9,2). 

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