As atividades de Verão das nossas crianças

Por um lado, o primeiro-ministro incentiva a que se planeiem as férias de verão, mas por outro lado o Governo dá a entender que desenha medidas que preveem lotação máxima para praias e jardins públicos. E é nesta contradição que pode cair todo e qualquer projeto de tempos livres de verão para as crianças, inviabilizando o seu funcionamento.

No momento em que todos nos preparamos para um novo período, reina alguma incerteza mas existe, porém, uma ambição partilhada por todos: sair progressivamente do recolhimento e recuperar o espaço público.

No topo desta ambição, surgem várias preocupações, nomeadamente sobre a ocupação diária das nossas crianças, com muitas dúvidas que urgem ser clarificadas. Se há algo que se verificou durante este período de emergência é a dificuldade em conciliar teletrabalho com um adequado acompanhamento de crianças e jovens.

Desde as normais preocupações com a sua vida académica, passando pelo acompanhamento dos seus tempos de lazer, não prejudicar o seu normal desenvolvimento é assegurar que não criamos danos geracionais na nossa comunidade.

De facto, se ainda existisse algum encarregado de educação que não valorizasse o trabalho de professores e educadores, monitores e técnicos de ATL, este período terá dissipado quaisquer dúvidas.

Por isso, num momento em que nos preparamos para iniciar a recuperação da nossa vida em comunidade, existem estratégias que deveremos ter para não trocar a saúde de todos por uns dias ao sol.

Neste contexto, são vários os encarregados de educação que solicitam às Juntas de Freguesia soluções para dar resposta à necessidade de apoio às famílias neste período de transição. Há quem pergunte já por atividades para os tradicionais períodos onde não se espera qualquer atividade letiva, mas onde os pais vão ter de continuar a trabalhar.

Porém, temos assistido a uma contradição tremenda por parte do Governo, que urge corrigir desde já: por um lado, o primeiro-ministro incentiva a que se planeiem as férias de verão, mas por outro lado o Governo dá a entender que desenha medidas que preveem lotação máxima para praias e para jardins públicos.

E é nesta contradição que pode cair todo e qualquer projeto de tempos livres de verão para as crianças, inviabilizando o seu funcionamento.

À situação dos espaços soma-se a situação dos recursos humanos. Uma grande maioria dos monitores que têm estado disponíveis para trabalhar nestes projetos são estudantes universitários.

Ora, perante a alteração de calendário nas universidades, esses jovens irão estar em exames, impossibilitando-os de colaborar nas férias das crianças.

Igualmente preocupante é o facto de termos camionetas que estarão sujeitas a lotações inferiores, obrigando ao uso de mais viaturas e, automaticamente, ao recurso a mais monitores, não se podendo permitir que este aumento de custos recaia nos encarregados de educação, já muito penalizados financeiramente.

Assim, como autarca, lanço o apelo para que as entidades que estão a delinear estas medidas envolvam as Juntas de Freguesia nessa definição, através da Associação Nacional de Freguesias, por ser quem melhor conhece esta realidade. São os autarcas que estão mais próximos da população e das suas necessidades.

Não podemos esquecer que muitos pais usaram o seu período de férias durante o estado de emergência, para não perderem o emprego ou sofrerem maiores reduções salariais, enquanto outros continuam sem soluções para o justo apoio às suas famílias, sobrecarregadas em todas as dimensões por este período de emergência.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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