Contra os exercícios militares da NATO, à chuva e ao som de Brecht

Manifestação em Lisboa organizada pelo Conselho Português para a Paz e Cooperação revoltou-se contra “um instrumento belicista com o único propósito de agressão”. Deputados do Partido Comunista estiveram presentes.

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Manifestação contra os exercícios militares da Nato em Portugal este sábado em Lisboa Enric Vives-Rubio
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A manifestação estava marcada para as 15h deste sábado, mas a chuva miudinha fez atrasar a organização, que ficou à espera que as duas centenas de pessoas se juntassem na Rua do Carmo, em Lisboa, para desfilarem até à Praça Luís de Camões, onde um palco tinha sido montado. O toque de marcha foi dado pela música Pedra Filosofal, de Manuel Freire, baseado no poema de António Gedeão.

“NATO é agressão, não é protecção”, “a paz é um direito, sem paz nada feito” e “queres saúde e protecção? Não, NATO, não” eram as palavras de ordem. Os manifestantes empunhavam cartazes e bandeiras, relativas às “mais de 30 organizações que convocaram a iniciativa”, entre emblemas do POUS – Partido Operário de Unidade Socialista, galhardetes do Movimento Democrático de Mulheres e da CGTP. Algumas crianças pequenas seguiam de mãos dadas com os avós e a Juventude Comunista fazia-se representar aqui e ali, mas percebia-se que o evento era da “velha guarda”, com muitas pessoas mais velhas a fazerem-se ouvir.

“A NATO é uma aliança belicista que constitui uma extensão do poder militar dos Estados Unidos da América e que actua em função dos seus interesses”, afirmou Ilda Figueiredo, dirigente do Conselho Português para a Paz e Cooperação (CPPC), organizadora da campanha “Sim à Paz! Não aos exercícios militares da NATO!”.

A antiga eurodeputada comunista apontou o dedo aos “maiores exercícios da NATO das últimas décadas” – o exercício “Trident Juncture”, a decorrer em Portugal, Espanha e Itália, de 21 de Outubro a 6 de Novembro - e ao compromisso dos países membros (entre eles, Portugal) em “aumentarem as despesas militares para mais 2% do PIB”.

“Não há dinheiro para salários, não há dinheiro para reformas na educação ou na saúde e há dinheiro para orçamentos militares?”, questionou Ilda Figueiredo, acrescentando que a própria adesão de Portugal à NATO é “inconstitucional”: “Na Constituição, artigo 7º, está escrito que Portugal defende a abolição dos grandes blocos político-militares”, justificou.

Segundo o CPPC, “o alargamento e extensão do poderio militar da NATO” é prova do “embuste que constituiu o seu apregoado carácter defensivo”, e que transforma esta instituição numa “superestrutura de âmbito planetário de carácter abertamente ofensivo”. O CPPC acusa a NATO de “dramáticas violações dos direitos dos povos”, incluindo o “direito à vida, destruição de recursos humanos, sociais e naturais”.

Os deputados comunistas Bruno Dias e Ana Mesquita também estiveram presentes na manifestação. Quando questionados pela Lusa se esta posição do PCP poderia dificultar um consenso à esquerda, responderam com um peremptório “era só o que faltava”. “Numa altura em que há ameaças à paz, em que o belicismo militarismo se apresenta de uma forma tão agressiva, era só o que faltava que nós ficássemos calados".

No final das declarações “politizadas”, ainda deu tempo para se chamar a actriz Fernanda Lapa ao palanque, que disse poesia para uma audiência cada vez mais pequena, não fosse a chuva ter continuado a cair.

Fernanda Lapa leu a Ode à Paz, de Natália Correia, muito aplaudida, mas a mensagem forte foi passada com a ajuda do poeta alemão Bertolt Brecht: “O homem, meu general, é muito últil/sabe voar e sabe matar/mas tem um defeito – sabe pensar”.

Notícia editada por Leonete Botelho

 

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