Irão anuncia condenação de jornalista americano sem revelar sentença

Jason Rezaian, com dupla nacionalidade, era acusado de espionagem, mas condenação surge depois de Teerão ter sugerido uma troca de detidos.

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Rezaian está detido há quase 15 meses na prisão de Evin Zoeann Murphy/Washington Post

O correspondente do jornal Washington Post em Teerão, preso há mais de um ano, foi condenado por espionagem, revelou o porta-voz da justiça iraniana, não adiantando qualquer outro detalhe sobre o processo ou a pena. O sigilo leva o jornal norte-americano a suspeitar que se trata de mais uma manobra do regime para forçar os Estados Unidos a negociar a sua libertação.

“É cada vez mais claro que a decisão final sobre o Jason [Rezaian] será tomada pelas autoridades políticas e não pelas judiciais”, disse à Reuters Douglas Jehl editor da secção de Internacional do jornal, em reacção ao anúncio feito horas antes por Gholam Hossein Ejei. Num primeiro momento, o representante do sistema judicial iraniano disse que o Tribunal Revolucionário de Teerão tinha emitido o seu veredicto e que o jornalista tinha agora 20 dias para apresentar recurso. Horas mais tarde, afirmou que Rezaian tinha sido “condenado” por espionagem, mas de novo não revelou que pena lhe foi aplicada.

Rezaian, de 39 anos, nasceu na Califórnia, filho de um emigrante iraniano, mas em 2008 mudou-se para Teerão e desde 2012 era correspondente do jornal norte-americano. Foi detido pelos serviços de informação em Julho do ano passado, juntamente com a mulher, a jornalista iraniana Yeganeh Salehi, e acusado de recolher informações confidenciais para as entregar a “governos hostis”, crimes pelos quais incorria numa pena de 10 a 20 anos de prisão. No julgamento, realizado entre Maio e Agosto à porta fechada, a procuradoria citou como provas uma visita que Rezaian efectuou a um consulado norte-americano (que a defesa diz ter servido para pedir um visto de entrada nos EUA para a mulher) e uma carta que escreveu em 2008 candidatando-se a um emprego na Administração norte-americana, aparentemente confiscada do seu computador.

O Washington Post classifica de absurdas as acusações e denuncia as condições em que Rezaian está detido – durante meses foi mantido em isolamento na prisão de Evin, onde Teerão mantém os presos políticos, sem acesso a um advogado, visitas ou cuidados médicos. Ainda na sexta-feira, o jornal notou que o seu correspondente está detido há 444 dias (a duração total do sequestro da embaixada norte-americana, em 1979), mais do que qualquer outro jornalista estrangeiro.

“A única coisa que alguma vez foi clara neste processo é a inocência de Jason”, reagiu o director do jornal, Martin Baron, repudiando a “escandalosa injustiça” da sua condenação, “depois de um processo que decorreu em segredo e no qual não foi apresentada uma única prova” que suportasse as acusações. O Departamento de Estado norte-americano revelou não ter sido oficialmente informado da condenação, “o que não é surpreendente dado que este processo tem sido opaco e incompreensível desde o início”.

As suspeitas de que o caso de Rezaian faz parte de um cenário mais complexo foram reforçadas por declarações recentes do presidente do Parlamento iraniano, Ali Larijani, segundo o qual o jornalista e outros dois americano-iranianos presos no Irão – o pastor cristão Saeed Abedini e o antigo marine Amir Hekmati – poderiam ser libertados em troca de iranianos condenados nos EUA. Há muito que os EUA tentam conseguir a libertação dos seus três cidadãos mas, pelo menos em público, a sugestão de Larijani foi declinada. O Washington Post adianta também que as contradições no discurso de Teerão desde que Rezaian foi detido indiciam que o jornalista foi apanhado nas lutas internas do regime, entre a linha dura que defende uma posição intransigente em relação aos EUA e a ala mais moderada, liderada pelo Presidente Hassan Rohani, que aposta num diálogo limitado com Washington.

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