Listas de deputados da coligação deixam CDS fracturado

Centristas admitem que Assunção Cristas, a ministra-estrela de Paulo Portas, ficou isolada pelas suas aspirações à sucessão do líder do partido. Responsáveis pelas escolhas descartam responsabilidades.

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Algumas das escolhas de deputados já são vistas como fazendo parte do puzzle da sucessão de Portas MIGUEL MANSO

As listas de candidatos a deputados do CDS às legislativas deixaram feridas no partido e poderão ter mexido com o equilíbrio de forças no cenário de sucessão de Paulo Portas. A contestação interna é aberta sobre as escolhas nos distritos de Braga, Aveiro, Coimbra, e até de Lisboa. E aponta directamente para o líder do partido, o que é algo inédito nos últimos anos.

Depois de um conselho nacional de há duas semanas muito agitado – em que o líder da distrital de Braga afrontou Portas directamente –, os centristas tentam serenar os ânimos, mas ainda estão a digerir as escolhas do partido nas listas da coligação com o PSD. Opções “sem sentido” e que não respeitaram as estruturas locais foram algumas das críticas mais ouvidas pelo PÚBLICO entre os dirigentes locais.

As listas estiveram a ser trabalhadas por dois nomes fortes na sucessão de Portas na liderança do partido: João Almeida (membro da Executiva e secretário de Estado da Administração Interna) e Pedro Mota Soares (vice-presidente do CDS e ministro da Segurança Social). Ambos recusam agora assumir a responsabilidade nas escolhas. “Não tive nada a ver com o processo de escolhas das listas que cabe ao presidente do partido”, disse João Almeida. No caso de Mota Soares, o PÚBLICO tem relatos de centristas a quem o dirigente nacional contactou para resolver problemas de lugares.

No CDS, há a percepção de que a elaboração das listas de deputados deixou isolada Assunção Cristas, também vice-presidente, também ela possível candidata à sucessão de Portas. A sua manifesta disponilidade para suceder a Paulo Portas desagradou no partido. Aliás, alguns dos seus apoios, como Teresa Anjinho, que entrou em 2011 no partido pela mão da ministra da Agricultura, ficaram de fora do futuro grupo parlamentar. Este é um dos casos considerados mais injustos dentro do CDS e até no PSD. O próprio Diogo Feio, que é visto como próximo de Assunção, e é também vice-presidente, alegou razões profissionais para rejeitar um lugar nas listas, mas ao que o PÚBLICO apurou não terá gostado de ver esta “guerra de facções”. Cristas também não contará com outro apoiante na bancada, Artur Rego, deputado eleito pelo Algarve, que ficou de fora das listas, depois de um conflito com a distrital. Em Coimbra, Paulo Almeida, que também é considerado como mais próximo da ministra da Agricultura, foi remetido para último lugar, não elegível, tendo sido ultrapassado por uma escolha da direcção do partido: Miguel Pires da Silva, líder da Juventude Popular. As estruturas locais não gostaram de ter um páraquedista e houve demissões na comissão política e assembleia distrital.

Um simpatizante de Cristas que se manteve em lugar elegível é João Rebelo, que tem a pasta da defesa e é amigo de longa data de Paulo Portas. Um apoio agora reforçado com a última escolha do presidente do CDS para Santarém: uma adjunta da ministra – ligada à agricultura e ao distrito – irá ocupar o primeiro lugar da do partido (o quarto da coligação) como independente.

No cenário da sucessão de Portas após as próximas legislativas – que ninguém quer reconhecer oficialmente – há quem admita que Nuno Melo não queira avançar, apesar de ser o dirigente mais popular. E nessa hipótese, depois do descontentamento gerado pelas listas, já há dirigentes locais que admitem vir apoiar Assunção Cristas.

Na contestação interna às listas, Braga foi o caso mais agudo e terminou com a exclusão das listas do presidente da distrital e deputado Altino Bessa. A proposta para ser colocado nos primeiros dois lugares disponíveis do CDS foi aprovada por unanimidade pela Assembleia Distrital, incluindo por Nuno Melo, que é também presidente desta estrutura. O vice-presidente, amigo de há longa data de Altino Bessa, votou a favor dessa proposta, mas no Conselho Nacional de aprovação das listas optou por ficar em silêncio perante a contestação do deputado de Braga que ameaçou apresentar a sua lista contra a da direcção de Portas. Dias depois Altino Bessa assinou um comunicado em que revela ter recusado o terceiro lugar do CDS na lista (o 14.º da coligação), argumentando não se enquadrar nos critérios de exclusão dos autarcas com funções executivas já que não tem tempo atribuído nem é remunerado enquanto vereador de Braga. Na lista encabeçada pelo social-democrata Jorge Moreira da Silva, Telmo Correia (líder da distrital de Lisboa) é o primeiro do CDS e o segundo é a subsecretária de Estado Adjunta de Portas, Vânia Dias da Silva.

Outro dos casos de grande contestação interna foi o de Aveiro que viu afastado o deputado do distrito (além do próprio Portas). Raul Almeida veio para Lisboa em lugar dificilmente elegível enquanto Teresa Anjinho, candidata em 2011, foi excluída. No seu lugar, ficaram João Almeida e o secretário-geral António Carlos Monteiro. Escolhas impostas pela direcção de Portas que muito desagradaram à maioria das estruturas locais de Aveiro.

Em Lisboa, houve quem não gostasse de ver pessoas da estrutura local em lugares não elegíveis. Portas quis dar um sinal de união do partido ao convidar Filipe Anacoreta Correia, o rosto da corrente interna crítica da sua direcção. Um sinal que é válido hoje mas que também pode ser um factor agregador no pós-Portas: é que Anacoreta Correia é mais próximo de Cristas do que qualquer um dos outros possíveis candidatos à liderança do CDS. 

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