FARC anunciam cessar-fogo de um mês a partir de 20 de Julho

Decisão surge um dia depois de as partes presentes nas negociações de paz terem pedido à guerrilha um “esfriar” do conflito.

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Anúncio do cessar-fogo de um mês por representantes das FARC em Havana DR

O representante das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) em Havana, onde decorrem, desde 2012, as negociações de paz com o Governo colombiano, anunciou esta quarta-feira que a guerrilha vai cumprir um cessar-fogo unilateral, durante um mês, a partir do dia 20 de Julho. Os mediadores das negociações, Cuba e Noruega, assim como o Presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, tinham pedido uma “agilização” das negociações e o “esfriar” do conflito.

“Recorrendo ao espírito dos mediadores do processo anunciamos a nossa disposição de ordenar um cessar-fogo unilateral a partir de 20 de Julho, por um mês. Procuramos, com isso, criar condições favoráveis para avançar com a contraparte [o Governo colombiano] para a concretização de um cessar-fogo bilateral e definitivo”, publicou no seu site o secretariado das FARC, esta quarta-feira.

Iván Márquez, representante das FARC nas negociações que decorrem em Cuba, confirmou esta decisão e afirmou, segundo o jornal colombiano El Tiempo, que o grupo estava em Havana para “alcançar a paz e pôr fim à guerra”. Citado pelo diário espanhol El País, apelou ainda ao “bom senso” por parte de todos os envolvidos, nomeadamente o Governo da Colômbia, afirmando que a guerrilha “não aceitará pressões”.

O anúncio das FARC acontece um dia depois de as partes se terem pronunciado sobre o estado das negociações. Cuba e a Noruega tinham dito, na terça-feira, que era “urgente esfriar” o conflito. O Governo colombiano, através do seu Presidente, Juan Manuel Santos, afirmou que era “necessário agilizar as negociações” e que a “paciência [do Governo e dos colombianos] tinha limites”, segundo o El País.

Esta posição de Santos foi ao encontro daquilo que Humberto de la Calle, representante do Governo nas negociações de paz, tinha afirmado numa entrevista concedida, no domingo, a uma televisão colombiana. “O processo está no seu pior momento. É possível que, um dia, as FARC não nos encontrem em Havana”, partilhou de la Calle.

Ainda que venha aliviar um pouco a tensão vivida nos últimos tempos, o cessar-fogo anunciado pelas FARC é visto por alguns políticos da Colômbia como insuficiente. Juan Manuel Santos publicou na sua conta oficial do Twitter que o Governo “valoriza o gesto” da guerrilha, mas acrescenta que são necessários “compromissos concretos para acelerar as negociações”. Alfredo Rangel, senador do partido Centro Democrático, foi mais longe. Citado pelo Tiempo, acusou as FARC de voltarem a “enganar” os colombianos e de “utilizar estas tréguas para acumular explosivos e preparar novas ofensivas terroristas”. Para Rangel, a única solução para a resolução do conflito será uma “suspensão definitiva da violência” para que seja possível dialogar em paz.

Os últimos meses conheceram vários anúncios de cessar-fogo, constantemente violados ou suspensos pelas FARC e pelas Forças Armadas da Colômbia. Segundo o Centro de Recursos para a Análise do Conflito (CERAC), o passado mês de Junho foi o mais violento, desde que se iniciaram as negociações de Havana, em 2012. O CERAC contabilizou, nesse mês, “83 acções violentas” da responsabilidade da guerrilha.

O conflito entre as autoridades colombianas e as FARC dura há mais de 50 anos e provocou a morte de mais de 220 mil pessoas, o desaparecimento de outras 25 mil e quase 5 milhões de refugiados.

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