Washington D.C. trava cartazes com caricatura de Maomé nos transportes públicos

Polémica blogger Pamela Geller queria espalhar pela cidade a caricatura que venceu um concurso no Texas.

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A campanha foi lançada pela polémica blogger Pamela Geller Mike Stone/Reuters

Os responsáveis pelos transportes públicos da capital dos Estados Unidos proibiram todos os anúncios que transmitam opiniões políticas ou religiosas, com o objectivo de travar uma campanha que mostrava uma caricatura de Maomé.

A decisão foi tomada na quinta-feira, em resposta a mais uma iniciativa da polémica blogger Pamela Geller, líder da American Defense Freedom Initiative – um grupo que se apresenta como defensor da liberdade de expressão e que é acusado pela organização não-governamental Southern Poverty Law Center de promover o discurso de ódio contra muçulmanos.

A ideia de Pamela Geller era colocar nas estações de metropolitano e nos autocarros de Washington D.C. cartazes com a caricatura de Maomé que venceu um concurso organizado no início de Maio na cidade texana de Garland.

No final desse concurso, dois homens armados foram mortos pela polícia quando tentavam entrar no edifício. Os atacantes eram ambos muçulmanos e foram identificados como Elton Simpson, de 30 anos, nascido no estado do Illinois e residente no Arizona; e Nadir Soofi, de 34 anos, nascido no Texas. Momentos antes do ataque, Simpson prestara juramento ao autoproclamado Estado Islâmico através do Twitter.

O concurso foi organizado por Pamela Geller e tinha como objectivo atribuir um prémio monetário no valor de 10.000 dólares ao autor do "melhor cartoon" que representasse Maomé. O evento teve como orador convidado o político holandês Gert Willers, fundador do Partido da Liberdade e conhecido pelas suas declarações anti-islão.

A caricatura vencedora – que Pamela Geller queria ver nas estações do metropolitano e nos autocarros de Washington D.C. – mostra uma imagem de Maomé a ameaçar um cartoonista com uma espada: "Não podes desenhar-me!" Em primeiro plano, vê-se a mão do cartoonista, que responde: "É por isso mesmo que te desenho."

Esta não é a primeira vez que Pamela Geller insiste em espalhar cartazes polémicos por grandes cidades norte-americanas, uma acção que ela descreve como essencial para a defesa da liberdade de expressão e que os seus opositores consideram ser mais uma prova de que Geller é uma activista preconceituosa e intolerante.

Em 2012, no meio da tensão provocada pelo ataque contra o consulado dos EUA em Benghazi, na Líbia, a organização de Pamela Geller venceu batalhas legais contra as autoridades que gerem as redes de transportes de Nova Iorque e de Washington D.C.

Um ano antes, a American Defense Freedom Initiative tinha sido proibida de comprar espaço publicitário no metropolitano e nos autocarros das duas cidades para colar um cartaz com uma mensagem polémica: "Em qualquer guerra entre homens civilizados e selvagens, apoie os homens civilizados. Apoie Israel, derrote a jihad." Mas a organização de Pamela Geller recorreu aos tribunais e acabou por vencer, com o argumento de que a proibição de uma mensagem de cariz político ou religioso específico viola a Primeira Emenda da Constituição dos EUA.

Depois da decisão legal em relação aos casos de Nova Iorque e Washington D.C., os responsáveis pela rede de transportes de outras cidades começaram a adoptar uma táctica diferente para tentarem evitar que os anúncios de Pamela Geller fossem espalhados por estações do metropolitano e autocarros, com receio de possíveis ataques – já este ano, em Março, as autoridades de Filadélfia decidiram não contestar uma ordem dos tribunais, mas alteraram os seus regulamentos para não aceitarem nenhum anúncio com opiniões políticas ou religiosas. Com esta decisão, as autoridades locais contornam a decisão dos tribunais, já que a liberdade de expressão só é violada se os responsáveis pelos transportes públicos recusarem a venda de espaços publicitários a uma única campanha, autorizando outras de cariz político ou religioso.

Ainda assim – e porque as autoridades de Filadélfia preferiram esperar pela decisão dos tribunais –, a organização de Pamela Geller conseguiu pôr a circular pela cidade cartazes com uma mensagem ainda mais controversa: enquadrada por uma fotografia em que se vê Adolf Hitler a falar com o líder nacionalista palestiniano Haj Amin al-Husseini, em 1941, lê-se que "o ódio islâmico aos judeus está no Corão".

"Dois terços de toda a ajuda dos EUA vão para países islâmicos. Parem o ódio. Ponham fim a toda a ajuda a países islâmicos", continua a mensagem.

Desta vez, as autoridades de Washington D.C. adiantaram-se e não esperaram por uma decisão dos tribunais, que deveria dar novamente razão aos argumentos do grupo de Pamela Geller. Antes disso, a entidade responsável pelos transportes públicos decidiu, na quinta-feira, proibir até ao fim do ano qualquer anúncio com mensagens políticas ou religiosas.

A questão seria diferente se estivessem em causa entidades privadas, mas a rede pública de transportes não pode rejeitar uma determinada campanha com mensagens políticas ou religiosas se aceitar outras igualmente controversas – um dos exemplos apresentados em tribunal pela American Defense Freedom Initiative é uma campanha aceite pelas autoridades de Washington D.C. em 2013, da coligação US Campaign to End the Israeli Occupation, com a frase "Ponham fim à ajuda militar dos EUA a Israel".

Em resposta a esta decisão da entidade que gere a rede de transportes públicos da capital norte-americana, Pamela Geller pôs à venda t-shirts e calendários com a caricatura de Maomé, e acusou os responsáveis da cidade de "recompensarem o terror com submissão".

"Estes cobardes podem dizer que estão a dar mais segurança às pessoas, mas eu digo que estão a fazer precisamente o contrário. Estão a tornar a situação muito mais perigosa para os americanos em todo o lado. Recompensar o terror com submissão é uma derrota. Uma derrota absoluta e completa", escreveu no seu blogue.

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