Mais de 600 mulheres e crianças resgatadas ao Boko Haram na última semana

A ofensiva do Exército nigeriano sobre a floresta que serve de esconderijo aos militantes islamistas permitiu a libertação de 13 campos e o salvamento de 677 mulheres e crianças. Mas as meninas raptadas da escola de Chibok há um ano permanecem desaparecidas.

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O Exército da Nigéria divulgou esta fotografia das mulheres e crianças resgatadas na quinta-feira REUTERS/Nigerian Military/Handout via Reuters

As autoridades nigerianas estavam a proceder a exames médicos e psicológicos e a confirmar a identidade de 234 mulheres e crianças que viveram sob cativeiro do grupo islamista Boko Haram na floresta de Sambisa por um período indeterminado. Segundo as primeiras informações, no grupo, que foi resgatado pelo Exército nacional na passada quinta-feira não se encontra nenhuma das meninas raptadas da escola de Chibok há um ano: oficialmente, o paradeiro das estudantes continua a ser desconhecido.

Tal como o desaparecimento das alunas de Chibok continua um mistério, também o que se passou com estas outras mulheres e crianças, alegadamente sequestradas pelos extremistas, está ainda por explicar. "Ninguém sabe os horrores que terão presenciado ou vivido nos campos de Kawuri e Kondunga", dois dos mantidos pelos islamistas na densa floresta que faz fronteira com uma reserva natural do estado de Borno, e que serve de esconderijo ao Boko Haram no Nordeste do país.

Numa fotografia difundida pelo Exército, as mulheres, jovens e crianças aparecem de cabeça tapada, com ar calmo e resignado. Não aparentam ter problemas de saúde, embora algumas crianças estejam magras. Na imagem não constam mulheres grávidas, mas um dos membros de um grupo de milícias locais que combatem o Boko Haram, Muhammad Gavi, disse à Associated Press que várias das mulheres resgatadas, incluindo algumas extremamente jovens, estavam em avançado estado de gravidez.

Sem nenhuma outra informação oficial, não se sabia se as mulheres tinham sido raptadas ou se tinham voluntariamente aderido à organização islamista; se pertenciam à família ou eram vítimas de casamentos forçados com combatentes do Boko Haram. Uma fonte militar disse à agência norte-americana que as mulheres inicialmente dispararam para afastar os soldados que participaram na operação de resgate do acampamento – o oficial, citado sob anonimato, não quis arriscar uma interpretação para esse comportamento. É possível que os militantes tenham usado as reféns como escudos humanos.

Dois dias antes deste salvamento – que só foi divulgado este sábado, através de uma mensagem do Ministério da Defesa publicado no Twitter – o Exército tinha libertado um outro acampamento do Boko Haram na floresta de Sambisa, onde se deparou com 93 mulheres e 200 meninas, que segundo a estação nigeriana TV 360 foram raptadas da aldeia de Bumsiri.

O porta-voz do Ministério da Defesa, major general Chris Olukolade, disse que as forças governamentais estavam envolvidas numa ofensiva terrestre, depois de semanas de raides aéreos terem diminuído significativamente a capacidade de defesa dos militantes. "A nossa operação de assalto à floresta desenrola-se em várias frentes. Os nossos esforços concentram-se no resgate e salvamento de reféns e na destruição de todos os acampamentos e outros redutos dos terroristas dispersos pela floresta", informou.

Nos últimos dias o Exército investiu sobre 13 acampamentos do Boko Haram na floresta, nove dos quais foram destruídos. Segundo o porta-voz do Governo, durante a semana, foram resgatadas 677 mulheres e crianças (não se sabe se os soldados não conseguiram capturar homens ou se estes já tinham abandonado os locais antecipando-se à chegada dos militares). As autoridades confirmaram a morte de um soldado e de uma mulher em tiroteios.

O Presidente da Nigéria, Goodluck Jonathan, que no final de Março falhou a reeleição para um segundo mandato, prometeu entregar ao seu sucessor um "país totalmente livre de terroristas". O vencedor das eleições, o antigo general Muhammadu Buhari, que liderou um governo militar na década de 90, é empossado no próximo dia 29 de Maio.

Em seis anos de insurreição, o Boko Haram fez mais de 15 mil vítimas e forçou cerca de 1,5 milhões de pessoas a abandonar as suas casas. Este ano, o grupo declarou a sua lealdade ao Estado Islâmico, que domina parte do território do Iraque e da Síria. No início do ano, o Governo nigeriano montou uma coligação militar com os seus vizinhos do Níger, Camarões e Chade para recuperar o território dominado pelos extremistas. Mas mesmo sob pressão, o Boko Haram não tem deixado de atacar, sobretudo em locais isolados: esta semana, o Governo do Chade evacuou uma série de povoações próximas do Lago Chade, depois de um ataque dos islamistas ter matado 46 soldados e 28 civis.

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