Palestinianos de Yarmouk “presos entre a peste e a cólera”

Estado Islâmico controla maior parte de campo de refugiados às portas de Damasco. Forças de Assad lançaram barris de explosivos. A situação “nunca foi tão desesperada”.

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Refugiados à espera de ajuda humanitária em Yarmouk, em Fevereiro de 2014 Rame Alsayed/Reuters

Quase 400 famílias, cerca de 2000 pessoas, foram retiradas de Yarmouk, campo de refugiados palestinianos na malha urbana de Damasco, na sequência da entrada do autoproclamado Estado Islâmico (EI). Os jihadistas, que em poucos dias assumiram o controlo da maior parte de uma área onde permanecem cerca de 16 mil pessoas, submetidas há anos a duras provações, estão agora a uma meia dúzia de quilómetros do palácio presidencial de Bashar al-Assad.

Com combates entre grupos rivais no interior do campo, cercados pelas forças governamentais sírias – que no sábado lançaram barris cheios de explosivos sobre Yarmouk – os refugiados “estão presos entre a peste e a cólera”, como disse à AFP Ayman Abu Hachem, responsável da oposição síria para os assuntos dos residentes palestinianos.

Cercados há mais de ano e meio pelo exército de Assad, com escassez de alimentos, água e medicamentos, os refugiados de Yarmouk viram-se desde quarta-feira a braços com um problema adicional que agravou a sua situação: os combates no interior do campo que se seguiram à entrada do EI, que pela primeira vez alcançou assim a capital da Síria.

Na sexta e no sábado, as 400 famílias que conseguiram deixar Yarmouk saíram "por duas estradas seguras para o bairro limítrofe de Sahira, controlado pelo exército sírio”, explicou à agência Anur Abdel Hadi, responsável da Organização de Libertação da Palestina (OLP) em Damasco. “A evacuação prossegue”, acrescentou.

Christopher Guiness, porta-voz da UNRWA, agência das Nações Unidas para os refugiados palestinianos, informou num comunicado que, já este domingo, “após uma noite de intensos combates”, 94 civis, entre os quais 43 mulheres e 20 crianças, conseguiram sair do campo. A organização, que em várias ocasiões denunciou as péssimas condições de vida em Yarmouk, deixou de poder fornecer auxílio a quem ali está, e disse este domingo que a situação “nunca foi tão desesperada”.

A infiltração jihadista em Yarmouk foi feita a partir de Hajar Aswad, um subúrbio de Damasco, e teve a colaboração da Frente Al-Nusra, um grupo de combatentes ligado à Al-Qaeda, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos. No interior do campo, têm vindo a ganhar terreno ao Aknaf Beit al-Maqdis, uma milícia anti-Assad composta por sírios e palestinianos, próxima do movimento islamista palestiniano Hamas.  

“Um conflito que não é o seu”
Saeb Erekat, do comité executivo da OLP, disse ter recebido informações de “raptos, decapitações e execuções em massa” e denunciou a “perseguição e massacre de refugiados palestinianos num conflito que não é o seu”. O presidente palestiniano, Mahmoud Abbas, lamentou que os palestinianos “paguem o preço de guerras e agressões que não são as suas” e falou da necessidade de “encontrar uma solução para proteger os habitantes de Yarmouk.

No sábado, o Observatório Sírio dos Direitos Humanos – uma organização sede em Londres mas com uma importante rede de informações sobre o que se passa na Síria – calculou em 90% a área do campo controlada pelo Estado Islâmico. O dirigente palestiniano Anur Abdel Hadi disse que os jihadistas controlam o centro, o Sul e o Ocidente do campo, enquanto o Aknaf Beit al-Maqdis estará apenas no Norte e na zona oriental.

Desde quarta-feira foram mortas pelo menos 26 pessoas, incluindo civis, jihadistas e combatentes palestinianos – segundo o observatório, de acordo com o qual a aviação de Bashar al-Assad lançou no sábado 13 barris de explosivos sobre Yarmouk. “Todos os grupos terroristas são um alvo para nós”, disse fonte governamental citada pela AFP. A agência oficial Sana confirmou apenas que o campo está “sob controlo de grupos terroristas armados” – a designação oficial dada a todos os que combatem o regime.

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