Terceiro resgate à Grécia pode ir até aos 50 mil milhões de euros

Apesar de o executivo grego recusar um novo resgate, ministro das Finanças espanhol diz que o Eurogrupo já discute valores.

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O ministro espanhol garante que o terceiro resgate está a ser preparado Reuters

Os países da Zona Euro discutem já os termos de um eventual terceiro resgate financeiro à Grécia, que, a acontecer, se situará entre os 30 mil milhões e os 50 mil milhões de euros e será mais flexível nas exigências ao executivo grego. A informação é avançada nesta segunda-feira pelo ministro das Finanças espanhol, Luis de Guindos, numa intervenção em Pamplona, no norte de Espanha.

As afirmações de De Guindos foram refutadas horas mais tarde pelo presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, que negou os valores avançados pelo ministro espanhol e a própria existência de negociações para um terceiro resgate grego. O próprio Ministério de De Guindos deu também um passo atrás. Fonte governamental citada pelo El País explicou que as declarações do ministro das Finanças espanhol  – no rescaldo da troca de acusações entre Grécia, Espanha e Portugal sobre alegados bloqueios ao plano económico grego – devem ser entendidas apenas como “orientações”.  

A notícia de que os parceiros da moeda única vão já preparando um novo resgate à Grécia surge apenas três dias depois de o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, ter recusado a possibilidade de uma terceira intervenção no país. Na sexta-feira, o mesmo dia em que entrou formalmente em vigor a extensão de quatro meses do acordo de financiamento, Alexis Tsipras foi claro ao dirigir-se ao país. “Alguns apostam num terceiro resgate em Junho. Lamento muito, mas vamos desiludi-los uma vez mais”, disse, citado pela Reuters.

Mas a pressão tem vindo a aumentar no campo grego. Embora as autoridades europeias e o Governo de coligação liderado pelo Syriza tenham chegado a um acordo que deu ao sector bancário grego um urgente balão de oxigénio, o país tem, apenas no mês de Março, de amortizar um total de 4300 milhões de euros em dívidas. Deste montante, 1400 milhões de euros são para o Fundo Monetário Internacional (FMI).

Do actual pacote de resgate – o mesmo que sofreu uma extensão até Junho – restam ainda 7200 milhões de euros para Atenas. Contudo, como confirmou nesta segunda-feira o presidente do Eurogrupo, numa entrevista ao Financial Times, a Grécia só receberá este dinheiro depois de adoptar medidas tangíveis, o que pode demorar meses.

É que a lista de reformas propostas pelo Governo grego na passada segunda-feira, e que constituíram, a ver das três instituições que compunham a troika (agora com designação diferente), um ponto válido de partida para negociações, será ainda alvo de uma avaliação mais rigorosa. Essa avaliação terá de estar concluída até Abril.

Jeroen Dijssembloem avançou ainda ao Financial Times que está disposto a flexibilizar os prazos de reembolso do pacote de resgate – e que o poderá fazer já em Março –, mas só se o Governo grego começar a implementar medidas antes de terminar a avaliação final.

Varoufakis admite que extensão não chega

De facto, Yannis Varoufakis, o ministro das finanças Grego, tem vindo a referir-se a um “novo acordo”, sob a designação de “pacto para o crescimento”. Referiu-o na carta enviada ao Eurogrupo com as propostas gregas e voltou a referi-lo nesta segunda-feira ao diário alemão Handelsblatt. Varoufakis admite, além disso, que algo mais será necessário para que a Grécia possa cumprir as suas obrigações financeiras para depois da extensão de quatro meses ao programa de assistência. Especificamente para o período de Junho até Agosto. Para esse trimestre, a Grécia tem de amortizar dívidas ao Banco Central Europeu no valor de 6700 milhões de euros.

Para Varoufakis, a alternativa passa por uma reestruturação da dívida grega através de uma troca de títulos de dívida (swaps). O tesouro grego emitiria títulos de dívida ligados ao crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do país. Em linha, portanto, com a ideia do Syriza para o tema da dívida: crescer para pagar. Algo que Varoufakis defende ser muito diferente de um corte na dívida. 

“[Existem] soluções mais inteligentes”, disse o ministro das Finanças grego ao diário alemão. “Perdão de dívida [Haircut é o termo utilizado] é uma palavra feia”, afirmou ainda. 

Parlamento não votará na extensão do programa
Soube-se também nesta segunda-feira que a coligação Syriza/Gregos Independentes não consultará o Parlamento grego sobre o tema da extensão de quatro meses do actual programa de assistência financeira ao país. Como avança o jornal grego Ekathimerini, o gabinete do primeiro-ministro grego diz que o Governo levará o debate ao parlamento, mas que a extensão não será levada a votos.

O acordo alcançado na semana passada para a extensão de quatro meses trouxe cisões entre o executivo grego e ala mais à esquerda do Syriza. Respondendo às acusações de que o Governo grego receia mostrar em público as divisões no principal partido do poder, Gavriil Sakelladis, porta-voz do executivo, avançou que Alexis Tsipras “está determinado a ter um debate em torno disto [extensão do acordo]”. Citado pelo Ekathimerini, Sakelladis diz ainda que “[o Governo] não tem medo do diálogo”. 
 

Notícia actualizada às 11h14 do dia 3 de Março. Acrescenta declarações de Jeroen Dijsselbloem e de fontes do Governo espanhol.

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