Povoamento da América aconteceu em três vagas sucessivas

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As populações mais homogéneas geneticamente são as da América do Sul Gregg Newton/Reuters

Os progressos da genética podem ter permitido enterrar o machado de guerra num debate histórico: o povoamento da América fez-se a partir da Sibéria por populações vindas da Ásia, mas em três vagas sucessivas e não apenas numa, diz uma equipa internacional de investigadores na revista Nature.

Este modelo de povoamento, em três vagas sucessivas, já tinha sido proposto em 1986 por linguistas, mas não foi aceite, na época, pela comunidade científica.

Publicado nesta quarta-feira na revista britânica Nature, um estudo traça a história do património genético das populações nativas americanas, realizado por um consórcio internacional com mais de 60 cientistas. E demonstra que, pelo menos em parte, o modelo de 1986 estava correcto.

Ao analisar o genoma de 500 pessoas oriundas de 52 populações nativas americanas e 17 da Sibéria, com a ajuda de programas informáticos, os investigadores conseguiram obter uma visão de conjunto do seu património genético. A comparação entre mais de 364.000 marcadores genéticos “permitiu estabelecer o grau de diferenciação ou de semelhança genética entre estas populações”, escreve, em comunicado, o Centro Nacional da Investigação Científica (CNRS) de França, que contribuiu para este estudo.

As análises confirmam que a maioria das populações ameríndias resulta de uma vaga de migração vinda da Sibéria há cerca de 15.000 anos, durante uma glaciação que, na época, tornou o estreito de Bering transponível.

Os resultados também salientam a grande diversidade genética entre os indivíduos do Norte da América, enquanto as populações mais homogéneas geneticamente são as da América do Sul.

Mas, acima de tudo, a investigação demonstra a existência de duas outras vagas de povoamento asiático, que ocorreram depois (há entre 15.000 e 5000 anos), o que confirma o modelo proposto em 1986 por Joseph Greenberg, Christy Turner e Stephen Zegura, salienta o CNRS. Estas duas vagas posteriores “ficaram acantonadas no Alasca, Canadá e no Norte dos Estados Unidos”.

E, contrariamente ao que afirmava o modelo de 1986, os novos povoadores integraram-se bem nas populações que já existiam naquelas regiões, formando os povos esquimós, por exemplo.

Qualquer que seja o período em questão, a genética mostra que as populações colonizaram o continente americano em direcção ao sul, seguindo as zonas costeiras e separando-se ao longo da sua dispersão. Depois desta separação, as trocas genéticas entre os diferentes grupos foram muito reduzidas, em especial na América do Sul.

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