Fogos reais, meios flexíveis

A entrega de mil telemóveis a pastores para detecção precoce dos incêndios florestais é uma das poucas novidades do plano de prevenção e combate a incêndios deste ano, cujo orçamento total ronda os 11 milhões de contos. De resto, reforçam-se as apostas do ano passado, como a vigilância móvel motorizada e os sapadores florestais, e aposta-se na flexibilidade de meios e de calendários.

O Ministério da Administração Interna (MAI) não quer voltar a ser apanhado desprevenido com fogos fora de tempo. Depois dos incêndios de Março, começou a preparar um plano de emergência para colocar imediatamente em acção fora da "época alta" dos fogos florestais (meses de Verão), que entretanto foi reajustado em função do clima. A chuva dos últimos dois meses veio pôr água na fervura das piores perspectivas, mas do susto ficou a lição: é preciso estar preparado para o imprevisível. Daí que, ao contrário dos anos anteriores, em 2000 vai apostar-se na flexibilidade de meios e de calendários. À excepção do início da "fase Alfa" - que começa a 7 de Junho com cinco helicópteros em alerta permanente (e mais sete a partir de 13/7), dois aerotanques pesados, até 30 grupos de intervenção, em caso de necessidade e só em zonas críticas -, não há datas marcadas para mais nada. A "fase Bravo", aquela em que todos os meios de combate estarão em alerta nos seus postos, só começa em Julho se não houver necessidade de a activar antes, e terminará durante o mês de Setembro, quando se entender ter passado a fase crítica. Passa-se então à "fase Charlie", aquela em que se manterão em alerta três grupos com um total de nove helicópteros (um grupo para actuação em 15 minutos, outro em 24 horas e o terceiro em 48 horas) e os meios terrestres e humanos serão accionados em função da situação, podendo ser adoptadas medidas operacionais de carácter excepcional em caso de necessidade.O "coelho da cartola" do plano deste ano é a distribuição, a título experimental, de mil telemóveis entre os pastores, uma medida que sai a custo zero ao Governo, graças a um protocolo com a TMN e a Alcatel. A ideia é explicada pelo secretário de Estado adjunto do ministro da Adminsitração Interna, Manuel Diogo: "Entre as pessoas que trabalham directamente com a natureza, os pastores são os que têm maior predisposição para a vigilância florestal, até porque conhecem bem os perigos dos comportamentos menos adequados ao ambiente", afirmou ao PÚBLICO. O esquema de funcionamento também é simples: os mil pastores seleccionados vão receber um telemóvel dotado de um "chip" que permite o funcionamento do aparelho mesmo onde não exista rede, e carregado com cinco contos de crédito para hamadas pessoais dos utilizadores. Sempre que detectar um fogo, o pastor só tem que carregar numa tecla para entrar em contacto com a central de bombeiros mais próxima, via 117 (número nacional de protecção à floresta).De resto, todo o plano de prevenção e combate de fogos florestais é decalcado do ano anterior, embora tenha havido alguns reforços pontuais. Os meios técnicos e humanos (ver infografia) são praticamente iguais aos do ano passado, embora haja o reforço da vigilância móvel motorizada e das equipas de sapadores florestais, uma novidade da última campanha que consistiu na criação de grupos de jovens e desempregados para ajudar na limpeza e vigilância das florestas, assim como na detecção de incêndios, na primeira intervenção e na fase de rescaldo. E até o investimento, na ordem dos onze milhões de contos - três milhões para prevenção e oito para o combate -, é sensivelmente o mesmo de 1999, embora também os números sejam "flexíveis" em função das necessidades."Não tenho uma posição de tranquilidade nem de receio acrescido: o plano foi traçado com critério e consciência pela Inspecção Superior de Bombeiros, com base em dados estatísticos dos últimos anos", justificou ao PÚBLICO Manuel Diogo. Além de que, sublinha o governante, "os corpos de bombeiros estão bem equipados, graças ao grande esforço financeiro, na ordem dos nove milhões de contos, feito pelo último Governo" em equipamento de combate a incêndios. Um esforço que continua a ser seguido pelo actual ministério, embora agora mais voltado para as cidades: segundo o secretário de Estado adjunto, está a ser gasto quase um milhão de contos na aquisição de 35 auto-escadas - "as cidades crescem em altura" - e mais 1, 250 milhões em 80 viaturas diversificadas.

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