A cidade e as serras

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a Lido recentemente neste jornal: fecharam cerca de 400 farmácias nas aldeias, nos últimos anos. Tal como andam a fechar pequenas escolas, centros de saúde, equipamentos locais.

Em nome de maior qualidade, fruto de visões longínquas, sectoriais e incompletas, centraliza-se. Assim, sem qualquer visão territorial, sem visão de comunidade, de proximidade, de mobilidade sustentável. Retiram-se marcos de vida e de identidade e, a pouco e pouco, despovoa-se. Completamente ao contrário do que as políticas regionais mais cuidadas têm feito pela Europa fora.

O que estão a fazer ao campo é um desastre. Sim, as crianças devem ter óptimas escolas. Sim, todos os cidadãos devem ter óptimos cuidados de saúde. Mas há várias peças em jogo. O preço de tudo isso não pode ser o despovoamento rural. Esse é um preço incomportável, impossível, absurdo. Dever-se-ia, sim, qualificar escolas e centros de saúde de cuidados básicos, nas povoações pequenas. Fazer isso não custaria mais do que, digamos, uma auto-estrada ao lado de outra que já existe - um argumento populista, mas paciência, bem verdadeiro. Seria na verdade um excelente investimento, altamente compensador a longo prazo - pois grande é o valor de um território coeso e diverso.

E, depois, um óptimo campo ajuda a ter óptimas cidades. E vice-versa: cidades compactas e activas podem alimentar um campo moderno e saudável. Enfim, tudo coisas que o Eça já dizia. A sua última obra não era a preto e branco, obviamente. Tanto atacava as mentalidades fechadas, como defendia os espíritos livres e curiosos - quer nas cidades, quer nas serras.

Geógrafo

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