Jimmy Carter inicia visita histórica a Cuba

Jimmy Carter chegou ontem a Cuba para uma visita privada de seis dias. Carter é o primeiro ex-presidente americano a visitar a ilha desde que Fidel Castro chegou ao poder; apesar de a sua visita não ter carácter oficial, espera-se que o simbolismo da sua presença sirva para resolver o impasse nas relações EUA-Cuba, que já dura há mais de quatro décadas. Fidel recebeu Carter com "amizade sincera", e prometeu-lhe um acesso "livre e total" aos centros cubanos de investigação científica.Durante a sua presidência (1977-1980), Carter iniciou uma aproximação com o regime de Fidel, abrindo uma missão diplomática em Havana e negociando a libertação de prisioneiros políticos. Carter opõe-se ao embargo comercial que os EUA impõem a Cuba praticamente desde o golpe de Fidel, em 1959. Agora, ele cria um precedente ao tornar-se no primeiro ocupante da Casa Branca (actual ou reformado) a visitar Cuba desde 1928. A sua viagem a Havana não foi vista com bons olhos pela Administração Bush, que no entanto lhe deu luz verde (os cidadãos americanos não podem viajar para Cuba sem uma autorização especial). A visita de Carter "será muito útil para enviar a mensagem de que a liberdade e a democracia são importantes em Cuba", disse o porta-voz da Casa Branca, Ari Fleischer.Contudo, poucos dias antes da viagem de Carter, a Administração Bush dinamitou a visita, incluindo Cuba numa lista de países que fazem investigação de armas de destruição maciça. Essa acusação foi ainda ontem repetida pelo secretário de Estado Colin Powell, que referiu as instalações de biotecnologia cubanas como possíveis centros de construção de armas biológicas.Fidel negou as acusações, e disse ontem a Carter que ele terá "acesso livre e total" para inspeccionar "pessoalmente" os centros de investigação científica cubanos. No seu discurso de recepção a Carter, o líder cubano disse "esperar honestamente que a sua visita a Cuba não seja usada para questionar o seu patriotismo".Carter, que viaja acompanhado da sua mulher, Rosalyn, respondeu falando em espanhol: "Acolhemos esta oportunidade de tentar identificar alguns pontos em comum e algumas áreas de cooperação. Viemos aqui como amigos de Cuba, e esperamos poder encontrar-nos com todos os tipos de cubanos."Como o "caso Elián" demonstrou recentemente, Cuba continua a ser um tema difícil nos Estados Unidos. O embargo comercial e as várias tentativas de derrubar Fidel fracassaram, e o Governo americano tem hesitado entre tentar uma aproximação a Cuba ou esperar apenas que Castro morra.O principal obstáculo a uma mudança na posição dos EUA é a influente comunidade cubano-americana, concentrada sobretudo na Florida e empedernidamente anti-Fidel. Para eles, a visita de Carter é "muito barulho para nada", como disse ao "Miami Herald" a congressista pela Florida Ileana Ros-Lehtinen: "Castro não mudará nunca. Iremos alguma vez compreender que este homem é mesmo um ditador?"As palavras de Ros-Lehtinen reflectem o sentimento da maioria dos cubano-americanos; no entanto, a Fundação Cubano-Americana, principal "lobby" anti-castrista nos EUA, teve palavras mais moderadas sobre a visita de Carter, esperando que a presença do ex-presidente americano contribua para uma campanha pela realização de um referendo em Cuba. Joe Garcia, director-executivo da fundação, disse ao "New York Times" esperar que a visita traga resultados práticos: "Ele é um ex-presidente, e o seu papel tem de ser significativo, senão não vale a pena arriscar o seu prestígio."Quem deposita mais esperanças na visita são as organizações que pressionam Washington a retomar o diálogo com Cuba. Sally Grooms Cowal, presidente da Cuba Policy Foundation, disse à CNN: "O diálogo e o empenhamento são a melhor forma de proteger os interesses dos EUA e de promover reformas políticas e económicas na ilha - algo em que o embargo de 40 anos falhou por completo."

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