Começou o "assalto final" a Grozni

No dia de Natal católico, a duas semanas do Natal ortodoxo russo, as forças do Kremlin desencadearam o ataque final a Grozni. Prevê-se um confronto sangrento, com combates rua a rua numa cidade em ruínas. O estado-maior federal quer terminar com a guerra dentro de cinco dias. Mas os rebeldes islamistas garantem que podem resistir pelo menos durante mais três meses.

As forças russas que cercam Grozni iniciaram ontem o anunciado ataque em larga escala à capital da Tchetchénia, referiram diversos relatos provenientes da cidade e citados pelas principais agências internacionais. De acordo com as mesmas fontes, ocorreram violentos combates no interior da cidade, após as tropas federais russas e os seus aliados tchetchenos, apoiados por fortes barragens de artilharia e tanques, avançarem de diversas direcções. Na sexta-feira, uma fonte do estado-maior russo garantia à AFP que a data exacta do ataque final já tinha sido "fixada" e admitiu que os rebeldes tchetchenos estavam a oferecer uma forte resistência nos arredores da devastada capital, onde ainda permanecem encurralados milhares de civis.Citado pela agência de Moscovo Interfax, o vice-comandante das tropas tchetchenas, Aslanbek Ismailov, referiu-se a ferozes combates de rua que eclodiram na manhã de ontem, à medida que os soldados russos avançavam em direcção ao centro. Disse ainda que os veículos blindados russos estavam a utilizar cortinas de fumo para se protegerem de eventuais emboscadas, apesar de admitir que esta operação poderia resumir-se a num novo "raide de reconhecimento". Mas por outro lado, no início da noite de ontem os militares russos admitiram "poucos avanços sérios" neste ataque final ao último bastião dos rebeldes, apesar de um alto responsável militar tchetcheno citado pela Interfax se ter referido a "violentos confrontos" no centro da capital. Outros relatos falavam de colunas de blindados que percorriam as ruas em direcção ao centro, e a explosões e disparos de armas pesadas que podiam ser escutados por toda a cidade. Conscientes do pesado número de baixas que poderão sofrer as suas tropas, à semelhança do que sucedeu na "primeira guerra tchetchena" entre 1994 e 1996, os militares do Kremlin responsáveis por esta operação têm repetido que as suas forças vão avançar cautelosamente. "Vai ser tudo feito com inteligência, para evitar perdas desnecessárias entre as tropas russas e a população civil", referia na tarde de ontem um porta-voz militar russo. Em declarações à AFP, o comandante das tropas que avançam a partir do sector Leste, coronel Nikolai Zaitsev, confirmou esta disposição: "Sabemos para onde vamos, e agiremos com muita cautela". Calcula-se que cerca de 40 mil civis ainda permanecem em Grozni, alvo de pesados ataques russos por terra e ar desde há algumas semanas. As tropas do Kremlin abriram dois corredores para permitir a fuga da cidade, mas a população civil sitiada não parece disposta a arriscar-se por trajectos demasiado perigosos. Diversos peritos militares garantem agora que as forças russas vão perder a sua vantagem nos combates de rua, pelo facto de os vários milhares de rebeldes tchetchenos que se calcula estarem entrincheirados na cidade conhecerem quase todas as esquinas ou esconderijos da arruinada cidade. Os responsáveis oficiais informaram que o assalto começou por ser conduzido pelas milícias tchetchenas pró-Moscovo, seguidas por forças especiais russas e tropas do ministério do Interior. A televisão privada NTV revelou que os responsáveis militares calculam em 1500 o número de rebeldes tchetchenos em Grozni, distribuídos por unidades de 15 a 20 combatentes, mas outras informações falam de 5000. O Kremlin pensa conquistar a cidade dentro de quatro a cinco dias, enquanto os seus opositores garantem que possuem alimentos e munições que lhes permitirão resistir nos próximos três meses.O correspondente da BBC junto à fronteira com a Tchetchénia referiu que os soldados russos colocaram sinais de identificação nas suas roupas, para poderem ser reconhecidos pelos seus camaradas de armas durante os combates de rua. Uma medida destinada a evitar que sejam alvo de "fogo amigo", pelo facto de os rebeldes tchetchenos utilizarem uniformes semelhantes aos dos soldados federais. Para além do cerco a Grozni, a Rússia disse que as suas forças promoveram ataques a posições rebeldes no Sul da Tchetchénia, e estabeleceram um anel de segurança na fronteira Sul para impedir a fuga das forças inimigas em direcção à Geórgia. Aviões e helicópteros de combate flagelaram três bases rebeldes nas montanhas do Sul, enquanto a Itar-Tass referia que tropas pára-quedistas foram lançadas junto a uma estrada proveniente da Geórgia e considerada vital para o abastecimento dos combatentes islamistas. A agudização do conflito no Cáucaso está a provocar um progressivo resfriamento das relações entre os Estados Unidos e a Rússia. De visita a Moscovo, o secretário de Estado adjunto dos EUA, Strobe Talbott, acusou quinta-feira a Rússia de violar as convenções internacionais durante a sua actual ofensiva militar. Em Belgrado, e antes de uma deslocação ao Kosovo para visitar as tropas russas, o ministro da Defesa do Kremlin, Igor Sergeiev, respondeu de imediato e disse que as relações entre Moscovo e a NATO se encontram de novo a um "nível muito baixo".

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